"Mulher da Rua" (Trotacalles), foi dirigido por Matilde Landeta, única mulher a exercer o cargo de diretora durante a era de ouro dos filmes mexicanos. A primeira mulher a dirigir um filme no país foi Mimí Derba. Embora tenha uma sinopse que dê a entender que seja um filme folhetinesco, surpreende por representar muito bem a realidade das mulheres que se prostituem.
O enredo do filme consiste na rivalidade entre duas irmãs: Maria; Azalea (Elda Peralta) e Elena (Miroslava) que no passado haviam disputado o mesmo homem. Maria fugiu com o namorado da irmã e após isso foi enganada e foi obrigada a se prostituir para sobreviver. Já Elena, tornou-se uma mulher fria, amarga e casou-se com um homem rico em busca de tranquilidade financeira e uma vida repleta de luxos e futilidades.
O caminho das irmãs se cruzam após anos, quando Maria, na rua se prostituindo, é atropelada por um carro. Uma das pessoas que estão dentro dele é Elena. O marido de Elena dá dinheiro para Maria e seu cartão. No dia seguinte, Maria procura Elena para lhe devolver o dinheiro e Elena despeja nela toda sua amargura e frustração e pede que nunca mais se vejam.
Maria é explorada por Rodolfo (Ernesto Alonso), um homem abusivo e malandro. Rodolfo acaba se envolvendo com Elena e engana Maria dizendo que pretende aplicar um golpe em uma mulher rica. Maria o ajuda no plano sem saber que a mulher é sua irmã. Elena, que até então era uma mulher amargurada, acaba se apaixonando por Rodolfo e coloca seu casamento em risco. As intenções de Rodolfo nunca ficam claras em relação à Elena, já que ele passa uma dubiedade, mas nos momentos finais do filme a real intenção dele se mostra.
Totalmente cega de paixão, Elena planeja um golpe contra o marido e decide fugir com Rodolfo. Ele abandona Maria e ela acaba descobrindo que a mulher que ele engana é na realidade sua irmã. Maria tenta alertá-la, porém Elena já decidiu o caminho que irá tomar e está completamente ciente de todas as consequências.
Mesmo com todo o enredo folhetinesco centrado em um embate feminino e na tensão da descoberta do triângulo amoroso, "Mulher da Rua", traz consigo um tema secundário: a realidade das mulheres que se prostituem. O filme mostra todas as dores e dificuldades que essas mulheres passam exercendo sua profissão, desde a exploração, passando pela solidão e pelo preconceito social.
Um ponto interessante e muito positivo é o companheirismo e a solidariedade entre as prostitutas, mostrando o apoio e amparo entre elas. Há também um monólogo de uma personagem que retrata muito bem a realidade das mulheres que são obrigadas a se prostituírem por necessidade e que ainda é bastante atual. Chega a ser fascinante ver uma cena dessas em um filme da década de 50.
Além do folhetim, da rivalidade e amparo entre mulheres e a prostituição por necessidade, há também a abordagem de outro tipo de prostituição: a prostituição por status social. Os dois tipos são bem definidos entre as duas irmãs: Maria se prostituiu por não encontrar uma solução, Elena se prostituiu em busca de luxo e riqueza. Maria tem noção de sua situação e também da situação de sua irmã, Elena se acha superior à Maria pelo fato de ser rica e rebaixa a irmã por ser prostituta.
Além de todos os pontos citados, outro que merece ser mencionado é a tensão gerada até o clímax do filme, quando Maria tem noção de que fora abandonada por Rodolfo e descobre que foi preterida por sua irmã. Após isso, o filme mantêm-se elevado e caminha para um final que gera um misto de revolta e êxtase, resultando em uma cena final que abusa de um recurso já conhecido do cinema, mas que mesmo assim é espetacular para o desfecho da história. Ao terminar esse filme, fica a sensação de um vazio existencial, além de um questionamento sobre as diferenças sociais e também a dúvida do porquê esse filme não ser tão conhecido e não estar em uma lista de melhores filmes produzidos de todos os tempos.
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