AS CINEASTAS PIONEIRAS DO CINEMA AFRO-AMERICANO
Maria P Williams, Eloyce Gist, Zora Neale Hurston e Madame E. Toussaint Welcome |
Os primórdios do cinema afro-americano ainda são obscuros por diversos fatores, entre eles, a escassez de material sobrevivente dos filmes produzidos na época. Oscar Micheaux é o cineasta mais famoso desse período, mas não foi o único. Muitas outras pessoas contribuíram para o crescimento do cinema afro-americano, incluindo várias mulheres, que desempenharam um papel crucial. No entanto, como era comum, muitas dessas figuras femininas foram esquecidas, apagadas e deixadas à sombra, assim como aconteceu com outras que colaboraram em diferentes áreas durante o cinema mudo e no início do cinema sonoro. Esta lista resgata cinco das mais importantes cineastas dos filmes étnicos.
Zora Neale Hurston
Possivelmente a mais famosa e celebrada desta lista, Zora chegou a ser considerada a primeira mulher a dirigir filmes afro-americanos, até que outros nomes femininos com essa mesma função fossem descobertos. Ela começou a produzir filmes em 1928, como parte de seus estudos de antropologia. Entre 1935 e 1936, filmou documentários como parte de seu trabalho de campo na Flórida e no Haiti. Além de cineasta, foi escritora, antropóloga e folclorista.
Eloyce Gist
Eloyce Gist produziu filmes ao lado de seu marido, James Gist. Juntos, criavam obras que não apenas entretinham, mas também traziam mensagens morais e espirituais. Eles se dedicavam a encontrar um público para seus filmes em grupos comunitários e igrejas afro-americanas. Geralmente, James produzia os filmes sozinho, contando com o apoio de Eloyce para reescrever ou regravar cenas quando necessário. Após a morte do marido, Eloyce nunca mais dirigiu ou produziu filmes, dedicando-se à escrita de romances e artigos para jornais. "Trem para o Inferno" (Hell Bound Train) e "Veredito: Não Culpado" (Verdict Not Guilty) são as obras mais conhecidas da dupla.
Tressie Souders
Em 1922, Tressie Souders foi nomeada pela imprensa negra como a primeira mulher a dirigir filmes afro-americanos. Seu filme "O Erro de Uma Mulher" (A Woman's Error) é considerado sua obra-prima, no qual ela não apenas dirigiu, mas também escreveu e produziu o roteiro.
Maria P. Williams
Em 1923, Maria dirigiu, produziu, distribuiu e atuou em seu filme "Chamas da Ira" (The Flames of Wrath). Ela era casada com Jesse L. Williams, presidente da The Western Film Producing Company and Booking Exchange, onde ela também ocupava os cargos de secretária e tesoureira. Isso facilitou seu envolvimento no processo de distribuição do filme.
Madame E. Toussaint Welcome
Madame E. Toussaint Welcome, junto com seu marido Ernest, fundou sua própria escola de arte, um estúdio fotográfico e uma produtora cinematográfica. Eles produziram filmes e pinturas de soldados afro-americanos da Primeira Guerra Mundial. Seu filme, um documentário de 12 partes intitulado "Doing Their Bit", foi produzido entre 1916 e 1917. Por isso, Jennie Louise Toussaint Welcome é considerada por alguns como a primeira mulher cineasta afro-americana, embora outras fontes venham a atribuir esse título a Tressie Souders anos depois.
FONTES
https://hundredheroines.org/historical-heroines/jane-louise-van-der-zee-toussaint-welcome/
https://wfpp.columbia.edu/pioneer/maria-p-williams/
https://wfpp.columbia.edu/pioneer/tressie-souders/
https://wfpp.columbia.edu/pioneer/eloyce-king-patrick-gist/
https://wfpp.columbia.edu/pioneer/zora-neale-hurston/
ATRIZES NEGRAS BRASILEIRAS ESQUECIDAS
Após anos de luta, o protagonismo negro finalmente vem ganhando espaço em nosso país e no mundo. Diversas pessoas negras batalharam por melhores condições de trabalho e reconhecimento. Nem todos alcançaram esse objetivo, e muitos nomes foram apagados. Em nosso país, não seria diferente.
Quando falamos sobre atrizes negras pioneiras, nos vêm à mente Ruth de Souza, Léa Garcia, Zezé Motta, Chica Xavier, Neuza Borges e, da geração mais recente, Taís Araújo. Todas são maravilhosas, excelentes e fascinantes. Todas contribuíram para o crescimento do destaque das pessoas negras em diversas mídias, como cinema, teatro e televisão, que são os maiores exemplos.
No entanto, entre todas elas, existem imensas lacunas que foram preenchidas por diversas atrizes fabulosas que, infelizmente, não conseguiram atingir o mesmo patamar das mencionadas e acabaram amargando o apagamento e o esquecimento.
Esta lista foi criada com o intuito de redescobrir e celebrar a importância e o legado dessas mulheres, que foram engolidas pelas areias do tempo.
Isaura Bruno
Uma das primeiras atrizes negras pioneiras no Brasil, Isaura teve uma carreira destacada no cinema e na televisão. Interpretou Tia Nastácia na versão do "Sítio do Pica-pau Amarelo" exibida entre 1967 e 1969, mas seu maior êxito foi o papel de Mamãe Dolores na novela "O Direito de Nascer" (1964). Foi a primeira atriz negra a desempenhar um papel principal em uma telenovela. Isaura chegou a receber uma proposta para reprisar o papel em uma versão mexicana, mas perdeu a oportunidade porque a carta com o convite se perdeu entre as correspondências de fãs da novela.
Em 1969, participou da novela "A Cabana do Pai Tomás", que causou polêmica por trazer o ator Sérgio Cardoso em blackface. Com poucos convites para atuar na televisão ou no cinema, Isaura voltou a trabalhar como empregada doméstica e vendia doces nas ruas. Faleceu em 1977, completamente esquecida.
Cléa Simões
Outra atriz pioneira, Cléa participou de diversos filmes e novelas. Sua carreira no cinema começou em 1959, e na televisão, em 1965. Grande parte de seus papéis foi de escravas, empregadas ou mães de santo. Em 1978, interpretou Mamãe Dolores na versão de "O Direito de Nascer" produzida pela TV Tupi.
Nos anos 1970, obteve destaque com papéis no cinema e na televisão, mas deu uma pausa na carreira na metade da década de 1980, retornando em 1990. Encerrou sua trajetória artística em 2002 e faleceu em 2006.
Jacira Sampaio
Jacira ingressou no Teatro Experimental do Negro, criado por Abdias do Nascimento, em 1958. Destacou-se na peça "Quarto de Empregada" (1959) e foi indicada ao prêmio APCA de Atriz Revelação por seu desempenho em "As Feiticeiras de Salem" (1960).
Na televisão, estreou em 1960 e teve uma carreira sólida, atuando em emissoras como Excelsior e Tupi. Em 1977, tornou-se a eterna Tia Nastácia na versão global do "Sítio do Pica-pau Amarelo", permanecendo no papel até 1986. Após o fim do seriado, fez participações em novelas e no programa "Você Decide". Jacira enfrentou problemas de saúde que a afastaram da carreira artística e faleceu em 1998.
Odelair Rodrigues
Com uma carreira diversificada no rádio, teatro, cinema e televisão, Odelair foi uma das pioneiras da televisão paranaense. Em 1966, interpretou Mamãe Dolores na versão de "O Direito de Nascer" produzida pela TV Paraná, exibida em Curitiba e Santa Catarina. Ficou conhecida como "a atriz do café" por ser garota-propaganda do Café Damasco. Faleceu em 2003.
Zeni Pereira
Zeni iniciou sua carreira no Teatro Experimental do Negro. Estreou na televisão em 1955 como Tia Nastácia na versão carioca do "Sítio do Pica-pau Amarelo", produzida pela TV Tupi. Ela reprisou o papel na TV Cultura entre 1964 e 1965 e no cinema em 1973.
Contratada pela TV Globo em 1969, participou de várias novelas de destaque, incluindo "Escrava Isaura" (1976), que se tornou um fenômeno mundial. Foi uma das atrizes favoritas do autor Gilberto Braga, atuando em novelas como "Dona Xepa", "Corpo a Corpo", "Vale Tudo" e "Pátria Minha" (1994), sua última aparição televisiva. Faleceu em 2002.
Benedita Rodrigues
Benedita trabalhou como empregada doméstica na casa de Monteiro Lobato e foi convidada por Tatiana Belinky para interpretar Tia Nastácia na primeira versão televisiva do "Sítio do Pica-pau Amarelo", em 1952. Ela reprisou o papel no cinema em "O Saci" (1953), a primeira produção infantil importante do cinema brasileiro.
Benedita participou de diversas telenovelas, mas, com o passar dos anos, os convites diminuíram. Trabalhou nos Correios e fez sua última aparição em "O Tempo Não Apaga" (1972). Faleceu em 1984.
Maria Ribeiro
Maria Ribeiro foi descoberta por Nelson Pereira dos Santos enquanto trabalhava como técnica de laboratório e estreou no cinema em "Vidas Secas" (1963). Embora sem experiência prévia, surpreendeu o público e o diretor com sua atuação. Trabalhou posteriormente com cineastas renomados, como Cacá Diegues.
Iolanda Braga (ou Yolanda Braga)
Iolanda foi a primeira atriz negra a protagonizar uma novela e a primeira garota-propaganda negra no Brasil. Começou sua carreira no teatro e também atuou como bailarina. Foi convidada para "O Direito de Nascer" (1965) e protagonizou "A Cor da Sua Pele", a primeira novela a abordar relacionamentos interraciais e mostrar um beijo interracial. Com o sucesso, tornou-se garota-propaganda da marca Belinda. Optou por seguir a carreira de dançarina e faleceu em 2021.
Jacyra Silva
Jacyra iniciou sua carreira como modelo e sonhava ser cantora. Estreou na TV em 1964, participou de diversas novelas e foi elogiada por seu desempenho no filme "O Cortiço" (1978). Posteriormente, afastou-se da carreira artística para cursar Filosofia e Psicologia. Faleceu em 1995.
Marina Miranda
Além de atriz, Marina foi uma humorista talentosa. Trabalhou com Chico Anysio e Tião Macalé, participando de programas humorísticos, novelas e minisséries. Fez apenas três filmes no cinema. Passou por dificuldades financeiras em 2005, mas retomou sua carreira brevemente com papéis na Rede Record. Faleceu em 2021.
Chica Lopes
Chica começou sua carreira no teatro em 1950 e foi contratada pela TV Tupi em 1970, onde atuou em diversas novelas. Destacou-se como Durvalina em "Éramos Seis" (1977) e reprisou o papel na versão do SBT em 1994. Em 2004, interpretou Tia Joaquina em "A Escrava Isaura" (Rede Record). Faleceu em 2016.
FONTES
https://www.mulheresdocinemabrasileiro.com.br/site/mulheres/visualiza/643/Isaura-Bruno/3
https://www.gov.br/palmares/pt-br/assuntos/noticias/personalidades-negras-2013-jacira-de-almeida-sampaio-2013-tia-nastacia
https://www.amese.pr.gov.br/Audio/Odelair-Rodrigues-atriz-do-cafe
https://educacao.curitiba.pr.gov.br/conteudo/livro-odelair-rodrigues/9726
https://www.mulheresdocinemabrasileiro.com.br/site/mulheres/visualiza/574/Zeni-Pereira/3
https://www.museudatv.com.br/biografia/zeni-pereira/
https://www.lobato.com.vc/2021/12/da-casa-de-lobato-para-a-pele-da-primeira-tia-nastacia-na-tv/
https://www.mulheresdocinemabrasileiro.com.br/site/mulheres/visualiza/297/Maria-Ribeiro/3
https://primeirosnegros.com/yolanda-braga/
https://www.mulheresdocinemabrasileiro.com.br/site/mulheres/visualiza/557/Jacyra-Silva/3
https://br.trace.tv/pessoas/memoria-trace-relembre-a-trajetoria-de-marina-miranda-e-seu-talento-para-o-humor/
https://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2016/09/atriz-de-eramos-seis-chica-lopes-morre-aos-90-anos-em-sao-carlos-sp.html