OS NEGROS NO CINEMA MUDO

Oscar Micheaux

Os artistas negros do cinema mudo foram praticamente apagados da história. É como se eles nunca tivessem existido. Mesmo com a tecnologia de hoje e com a alta gama de informações, é bastante complicado encontrar registros de pessoas negras que trabalharam nos filmes durante a era silenciosa. Houve uma época em que os negros foram proibidos de trabalhar nos filmes em papéis de destaque. Só eram aceitos se os papéis fossem de empregados ou escravos. Na maioria das vezes os negros eram retratados de forma ridícula por atores brancos através do famigerado Blackface

The Scar of Shame (1927)
The Scar of Shame (1927)

O Cinema Afro-Americano

O Cinema Afro-Americano, era um cinema feito por negros e para negros. Em alguns raros casos acontecia de um filme possuir um tema sobre a etnia negra, um elenco totalmente negro, mas ter na direção uma pessoa branca. É considerado um dos percursores dos filmes alternativos, já que não era feito para a massa. Segundo historiadores, os filmes sobre negros começaram junto com a popularização do cinema. Há documentados cerca de 500 filmes produzidos entre 1915 e 1952, com temática étnica. Eles eram conhecidos como "race filmes" (filmes de raça ou filmes étnicos).

Esses filmes foram criados para atenderem os desejos da população negra que não se via representada nos filmes populares. Nos filmes populares, os negros eram retratados de forma jocosa e preconceituosa. Eram retratados como preguiçosos, predadores sexuais, vingativos e muitas vezes como abobalhados ou como pessoas domesticadas. Isso sem contar com a técnica de Blackface que ridicularizava os negros através de uma caracterização que consistia em pintar um ator com tinta preta e usar tinta vermelha nos lábios.

Muitos desses filmes étnicos, eram cópias de alguns dos filmes populares entre os brancos, mas o que os diferenciavam era que os negros possuíam um peso maior nos papéis e poderiam interpretar desde policiais, até mesmo a herdeiros de fortunas. A maioria desses filmes focavam sobre o racismo em seus temas, mas também falavam sobre pobreza, classes sociais, entre outros temas. Havia também uma imensa gama de gêneros: desde musicais até mesmo a filmes de terror.

Como muitos filmes mudos, os filmes étnicos também sofreram com o descaso na preservação de seus negativos. Por serem considerados filmes de baixo orçamento e nem tão interessantes pelos seus temas raciais, os filmes em sua grande parte se perderam com o tempo. Alguns filmes sobreviveram, mas em condições péssimas, enquanto outros foram totalmente preservados, mas esses são uma raridade no segmento.


Oscar Micheaux

Oscar Micheaux, foi um dos diretores de filmes étnicos mais populares durante e após o cinema mudo. Antes de dirigir filmes, passou por diversos empregos e também era um talentoso escritor. Seu primeiro filme, dirigido em 1919, chama-se "The Homesteader" e é uma adaptação de um de seus livros. O filme fala sobre um homem negro apaixonado por uma mulher branca, mas que não se casa com ela por lealdade à sua raça. Acaba então casando-se com uma mulher negra e sendo infeliz. Seu segundo filme, "Within Our Gates", produzido em 1920, é considerado por muitos uma resposta às atrocidades presentes em "O Nascimento de Uma Nação" (Birth of a Nation). Micheaux continuou produzindo filmes mesmo com a transição do cinema mudo para o falado e sempre abordando questões raciais. Seu último filme foi realizado em 1948. Micheaux faleceu em 1951, aos 67 anos.

O filme mais antigo sobrevivente com pessoas negras

Datado 1898, "Something Good – Negro Kiss" um filme com cerca de 30 segundos, é considerado o material sobrevivente mais antigo, protagonizado por pessoas negras. Os atores desse filme chamavam-se Saint Suttle e Gertie Brown e eram atores de vaudeville. 

As mulheres e a produção de filmes étnicos

O cinema étnico deu grande voz às mulheres em seus primórdios, mas assim como no cinema americano, as mulheres tiveram seus registros apagados durante o tempo. Eloyce Gist não foi a primeira mulher a produzir filmes étnicos, mas era uma das mais famosas e badaladas diretoras desse segmento, mas assim como outras mulheres, teve seu nome apagado e seu legado esquecido. Outra diretora famosa é Zora Neale Hurston, que também padeceu do mesmo mal do esquecimento de sua obra e legado. O posto de primeira diretora de filmes étnicos fica entre Tressie Souders e Maria P. Williams, consideradas as pioneiras nesse segmento. Há também Madame E. Touissant Welcome, que dirigiu um filme sobre soldados negros na Primeira Guerra Mundial, que fazia parte de um programa de doze filmes produzidos junto com seu marido.

Josephine Baker

Josephine Baker, conhecida como a "Vênus Negra", é considerada a primeira grande estrela negra das artes cênicas. Em 1927, estrelaria o filme "Sereia dos Trópicos" (La Sirène des tropiques), que faria bastante sucesso na Europa. Durante anos o filme era apresentado apenas por fragmentos, aumentando mais ainda o fascínio sobre a figura de Baker. Após passar por uma restauração, o filme pôde ser apreciado em sua totalidade, assim como o desempenho de Baker, considerado um dos mais inesquecíveis do cinema mudo. 

Stepin Fetchit

Stepin Fetchit, foi uma das figuras mais contraditórias do entretenimento. Começou sua carreira no vaudeville, passando pelo cinema mudo e sonoro. Construiu um personagem que lhe levou à fama, mas que irritava profundamente a comunidade negra, pois o personagem era denominado de "o Homem mais preguiçoso do mundo", estereótipo muito comum dado às pessoas negras no cinema e fora dele. Fetchit é considerado o primeiro ator negro bem sucedido em Hollywood, como também o primeiro negro a ganhar mais de 1 milhão de dólares. Foi também um dos primeiros atores negros a receber crédito de tela.

"Aleluia" (Hallelujah) - Um dos primeiros filmes sonoros com atores negros

"Aleluia", foi rodado com elenco totalmente composto por atores e atrizes negros e foi uma grande revolução entre os grandes estúdios. O diretor do filme, King Vidor, tentava há anos rodar o filme, só o conseguiu, quando propôs trabalhar sem receber o salário. O filme foi gravado como silencioso, mas após sua finalização, diálogos e músicas foram inseridos em um árduo trabalho de sincronização. O filme foi um grande sucesso e contou com o boicote em algumas regiões do Sul. Ironicamente, os negros não podiam frequentar os cinemas para apreciarem o filme. Muitos cinemas deixavam os negros do lado de fora.

2 Comentários

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  1. Falando em Oscar Micheaux também podemos destacar o filme "Body and Soul" 1925. Ótima matéria, parabéns. Abraços.

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