CINEMATECA - ÁS DOS CÉUS

Produzido dentro do cinema afro-americano, "Ás dos Céus" (The Flying Ace) reúne todos os elementos característicos desse segmento: um protagonista negro com papel central na narrativa, retratado como um homem inteligente, astuto e praticamente invencível. Esse tipo de protagonismo só era possível dentro do cinema afro-americano. Fora dele, os atores negros, além de receberem papéis pequenos e inferiores, geralmente eram retratados de forma jocosa e carregada de estereótipos preconceituosos.

O cinema afro-americano foi, por muito tempo, marginalizado — desde a produção até a preservação dos filmes. As produções eram feitas com orçamentos muito baixos e, por isso, em alguns casos, os filmes acabavam tecnicamente fracos. Mesmo quando tinham boas histórias, era comum apresentarem defeitos no roteiro e na execução geral.

Dirigido por Richard E. Norman, "Ás dos Céus" dá ao seu protagonista ainda mais camadas de heroísmo, retratando-o como um excelente veterano de guerra que retorna para casa como um herói celebrado. Ao chegar em casa, ele se vê envolvido no misterioso roubo de uma mala com dinheiro de uma companhia ferroviária. O crime é atribuído injustamente a um funcionário inocente. Diante disso, o veterano retoma um antigo papel que desempenhava: o de detetive. Ele então começa a investigar o caso para inocentar o acusado e encontrar os verdadeiros culpados.

É um filme muito agradável de assistir, mesmo com alguns tropeços técnicos. Trazer um personagem negro como um detetive esperto, forte e inteligente é seu grande diferencial — além, claro, das cenas de ação. O filme foi produzido pelo Norman Studios, estúdio de propriedade do próprio diretor. Essa produtora foi uma das potências do cinema afro-americano, tendo realizado curtas e longas-metragens entre 1919 e 1928. O prédio do estúdio ainda existe e hoje abriga um museu dedicado ao cinema mudo. De todas as obras produzidas durante sua existência, apenas "Ás dos Céus" sobreviveu ao tempo.

Com orçamento limitado, as cenas de combate aéreo foram filmadas em estúdio, utilizando truques de câmera. O papel principal feminino foi inspirado na aviadora Bessie Coleman, a primeira mulher afro-americana a obter licença de piloto. Infelizmente, Bessie não chegou a ver o filme finalizado, pois faleceu em um acidente aéreo antes do lançamento.

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