A MULHER FAZ O HOMEM (MR SMITH GOES TO WASHINGTON) - O FILME QUE INCOMODOU A POLÍTICA E A IMPRENSA DOS EUA

Mesmo recebendo aqui no Brasil o estranho título de "A Mulher Faz o Homem", que destoa um pouco da proposta do filme contra o título original de "Mr. Smith Goes to Washington", o filme de Frank Capra, consegue transmitir a sua mensagem e permanece atual até hoje, já que aborda temas como idealismo, corrupção e valores morais. Curiosamente o projeto de criação desse filme nasceu do acaso. A princípio, Capra estava com planos de filmar algo sobre Chopin, mas Harry Cohn, o chefe da Columbia, não estava disposto a liberar um orçamento gigante para Capra, que na época era o maior diretor do estúdio e já possuía dois Oscars de melhor diretor pelos filmes "Aconteceu Naquela Noite" (It Happened in One Night) de 1934 e "O Galante Mr. Deeds" (Mr. Deeds Goes to Town) de 1936. O filme também ajudou Capra a superar a perda de seu filho recém-nascido que morreu após uma cirurgia.
Com a recusa de Cohn em produzir um filme sobre Chopin, foi apresentado a Capra, um roteiro baseado em uma história de Lewis R. Foster. Curiosamente a primeira opção para dirigir a história, havia sido o diretor Rouben Mamoulian e com Ralph Bellamy como o personagem principal. Após a desistência de Mamoulian e a posse de Capra na direção, o filme seria transformado em uma continuação de "O Galante Mr. Deeds", novamente com Gary Cooper e Jean Arthur nos papéis principais, porém Gary Cooper estava comprometido em outro projeto e então Capra viu em James Stewart a escolha ideal para o papel de Jefferson Smith. Com a impossibilidade de Gary Cooper em participar do projeto, a ideia de uma continuação de "O Galante Mr. Deeds" foi abortada e o roteiro novamente foi alterado.
Antes da Columbia comprar a história de Foster, a MGM e a Paramount se interessaram e chegaram até a produzir roteiros e enviá-los para os censores do Código Hays, que advertiram os dois estúdios sobre o teor da história, dizendo que "o roteiro possuía dinamite suficiente para explodir Hollywood e o país em geral", já que o roteiro retratava de forma bastante desfavorável o sistema do governo e que muitos poderiam pensar que o filme atacaria a forma democrática do governo e que se o filme fosse produzido, os estúdios deveriam elaborar alguma maneira de deixar bem claro para a audiência, que aquela obra não possuía vínculo algum com a realidade e que o Senado era composto por "cidadãos de bem", que trabalhavam em nome do bem estar da nação. Obviamente tanto a MGM, quanto a Paramount perceberam que produzir esse filme seria um perigo enorme para suas reputações e deixaram o caminho livre para a Columbia, que naquela época era considerado um "estúdio menor". Curiosamente, após a Columbia comprar os direitos de produção da história, escrever o roteiro e enviar para os censores do Código Hays, eles responderam que produzir o filme seria muito bom, pois mostra a importância de uma democracia e a luta de um senador contra a corrupção, estando ao lado do povo.
A produção do filme foi tranquila, tirando alguns atritos entre Jean Arthur e James Stewart, já que Jean Arthur queria trabalhar novamente com Gary Cooper e de certa forma antipatizou com James Stewart, por ele estar centrado demais no papel e bastante sério, mesmo assim Jean Arthur fez algumas observações posteriores, dizendo que James Stewart não era o ator apropriado para o papel e que ele não possuía a firmeza que o personagem pedia e que Gary Cooper em seu lugar teria dado o tom certo. Curiosamente, mesmo com todas essas críticas, Jean Arthur chegou a declarar que esse era um dos filmes que ela mais gostou de fazer e era também um dos seus favoritos. A dupla havia trabalhado no ano anterior (1938) no filme "Do Mundo Nada se Leva" (You Can't Take It with You) juntamente com Capra.
No filme, James Stewart interpreta Jefferson Smith, um simplório chefe de escoteiros do interior, que é bastante querido pelas pessoas e muito popular. Jefferson acaba recebendo um convite para se tornar senador em Washington, substituindo um senador falecido. Vendo que essa é uma boa oportunidade para ajudar as pessoas, Jefferson acaba aceitando. Já em Washington, ele conhece Clarissa Saunders (Jean Arthur) que mesmo não botando muita fé em Smith, irá lhe ajudara trilhar seu caminho no senado. O que Smith não imaginava é que ele está sendo usado como fantoche político, pelos poderosos. Ao se dar conta disso, Smith acaba perdendo a fé em relação à bondade e ao caráter de quem comanda o país. Mesmo decepcionado, Smith decide lutar contra o esquema corrupto.
O filme teve sua estreia em Washington (ironicamente onde o filme se passa) em 17 de outubro de 1939, onde reuniu mais de três mil convidados e algo em torno de 45 senadores. O filme como era de se esperar não foi bem recebido e sofreu diversos ataques tanto da imprensa de Washington, quanto da ala política, que acusaram o filme de ser antiamericano e pró-comunista, insinuando que o governo americano era corrupto. Capra chegou a relatar que ficou sabendo que alguns senadores presentes durante a exibição, ficaram horrorizados com a retratação de sua classe no filme e simplesmente abandonaram a exibição do filme. Alguns democratas chegaram a declarar que o filme relatou o Senado como um bando de vigaristas reunidos. Alguns jornalistas se posicionaram contra o filme e sugeriram ao Senado, criar uma lei que permitisse que os cinemas se recusassem a exibir filmes que fossem contra os princípios do país.
Havia também uma preocupação de que o filme manchasse a imagem dos EUA na Europa, foi cogitado retirar o filme de circulação no continente europeu, mas após o filme receber críticas favoráveis, a ideia foi descartada, porém o filme não teve o mesmo desfecho na Alemanha, Itália, Espanha e União Soviética, onde foi sumariamente banido. Na França, ele chegou a ser exibido após a Alemanha ocupar o país e impôr a proibição de filmes americanos. O filme foi bem aceito pela crítica especializada em cinema, que se manteve firme e alheia contra a opinião política. 
Mesmo o filme representando um escândalo e ameaça à política americana e mundial, ele conseguiu chegar ao Oscar, sendo indicado nas categorias de melhor filme, melhor ator (James Stewart), melhor ator coadjuvante (com disputa entre Claude Rains e Harry Carey), melhor direção de arte, melhor edição, melhor trilha sonora, melhor som e acabou levando uma estatueta na categoria de melhor história original, enquanto James Stewart recebeu um prêmio na categoria de melhor ator dos críticos de Nova York. Com o passar dos anos, o filme adquiriu um importante status e passou a estar presente em diversas listas de filmes e entrou para o Registro Nacional de Cinema em 1989, pela sua importância para o cinema.

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