LUISE RAINER - A PRIMEIRA ATRIZ A GANHAR DOIS OSCARS QUE DESAFIOU UM CHEFE DE ESTÚDIO

Talvez muitos não se lembrem ou não conheçam Luise, mas ela tem uma grande importância na história do cinema: foi a primeira atriz a ganhar mais de um Oscar, como também a primeira a ganhar em dois anos consecutivos. Luise nasceu na Alemanha e aos 16 anos, já atuava em Viena, na Áustria. Após passar anos atuando nos palcos e nos filmes alemães, Luise foi descoberta por caçadores de talentos da MGM. Em 1935, Luise assinou um contrato de três anos com a MGM e chegou a ser considerada "a nova Greta Garbo da MGM".
Chegando em Hollywood, Luise foi treinada por Constance Collier, que ficou encarregada de aperfeiçoar o inglês de Luise e ensiná-la artes dramáticas. Luise ficou cerca de oito semanas sem receber nenhum roteiro de filme. Seu primeiro filme foi "Escapade" no mesmo ano em que assinara o contrato com a MGM. Após o filme chegar nos cinemas, Luise teve grande repercussão e se tornou uma nova sensação de Hollywood.
Em 1936, Luise mostraria sua veia dramática em "Ziegfeld, o Criador de Estrelas" (The Great Ziegfeld), filme baseado na vida de Ziegfeld, um famoso produtor teatral que descobriu estrelas como Fanny Brice, Paulette Goddard entre outras. No filme, Luise interpretou Anna Held, atriz que mantinha um relacionamento com Ziegfeld. Mas Louis B. Mayer, o chefe da MGM, achava o papel pequeno demais para Luise e chegou a vetá-la da produção. Outro fator que impedia Louise de interpretar o papel, era o fato de Held ser polonesa, enquanto Luise era alemã, porém Irving Thalberg, conseguiu convencer Mayer a deixar Luise interpretar o papel, pois na visão de Thalberg, apenas Luise poderia fazê-lo e deu certo. Por seu desempenho, Luise ganhou o seu primeiro Oscar.
Em 1937, Luise foi a primeira escolha para o papel da chinesa O-Lan em "Terra dos Deuses" (The Good Earth), filme que também contava com Paul Muni. O papel de O-Lan era completamente o oposto de Anna Held, mostrando que Luise estava em busca de papéis que mostrassem a sua versatilidade como atriz. O-Lan era uma mulher completamente submissa ao marido. Praticamente em boa parte do filme, Luise apenas gesticula, tendo poucas falas. Louis B. Mayer novamente se opôs: dessa vez ele não queria que Luise interpretasse uma chinesa, como também era contra a produção do filme.
Mayer queria transformar Luise em uma das suas estrelas glamourosas e não concordava com o fato da atriz usar maquiagem e uma máscara de borracha, para aparentar ser mais velha. Novamente Thalberg bateu de frente com Mayer e conseguiu produzir o filme, com Luise no papel de O-Lan. Na caracterização da personagem, Luise dispensou a máscara de borracha, pois achava que ela limitaria suas expressões faciais. A produção do filme foi marcada por fatalidades: George W. Hill, que fora escolhido para a direção do filme, acabou cometendo suicídio ainda no início da produção que ficou suspensa por meses, até Sidney Franklin ser escolhido como seu substituto. Irving Thalberg faleceu subitamente durante a produção do filme, abalando todo o estúdio, já que ele era o homem de confiança de Louis B. Mayer.
Mesmo após essas tragédias, o filme foi produzido e se tornou um grande sucesso e Luise ganhou seu segundo Oscar. A vitória de Luise causou um certo tumulto e Hollywood, pois era a primeira vez que uma atriz recebera dois prêmios e em dois anos seguidos, outro fator que causou histeria, foi Luise ter derrotado Greta Garbo e seu desempenho em "A Dama das Camélias" (Camille), desempenho que era o favorito de muitos. Para Luise, sua segunda vitória foi um transtorno, pois ela teria que provar dali pra frente, que era uma excelente atriz e que o segundo Oscar lhe foi merecido.
Após "Terra dos Deuses", Luise acabou aceitando por pressão do estúdio, diversos papéis que lhe deixaram descontente. Começou então uma onda de boatos sobre Luise abandonar Hollywood após o vencimento de seu contrato com a MGM em 1937, porém Luise renovou o contrato para mais sete anos. Em 1938, Luise faria seu último filme para a MGM "Escola Dramática" (Dramatic School). Durante a produção do filme, Luise era considerada "Veneno de Bilheteria" e sua popularidade havia caído bastante.
Após "Escola Dramática", Luise decidiu encerrar sua carreira. Luise estava bastante frustrada, por ter perdido diversos papéis bons e ter sido obrigada a fazer filmes fracos, por pressão de Louis B. Mayer. Luise então pediu para Mayer a suspensão de seu contrato. Luise havia adquirido fama de ser uma atriz difícil e temperamental, devido a sempre estar disposta a brigar por papéis sérios e por melhores condições de trabalho e salário. O próprio Mayer fazia questão de sabotar a carreira de Luise.
O motivo final para o desligamento de Luise da MGM, foi ela ter sido recusada para um filme sobre Madame Curie. O papel que lhe foi negado, iria para Greta Garbo, porém o projeto acabou não vingando e ficou arquivado até 1943, quando Madame Curie foi interpretada por Greer Garson. Louis B. Mayer a princípio se recusou a liberá-la do contrato, porém Luise estava disposta de qualquer forma a ir embora de Hollywood e conseguiu com que ele lhe liberasse do contrato.
Após ir embora de Hollywood, Luise mudou-se para Nova York, onde fez uma peça de teatro. Após isso, retornou para a Europa, ajudando crianças vítimas da guerra civil espanhola, onde também estudou medicina. Luise chegou a retornar para Hollywood e quase estrelou "Por quem os Sinos Dobram" (For Whom the Bell Tolls) em 1943, mas perdeu o papel para Ingrid Bergman. Ao perder o papel para Ingrid, Luise acabou fazendo o filme "Reféns" (Hostages), encerrando sua carreira no cinema americano Após isso ficaria anos sem atuar nos cinemas, voltando apenas em 1997, no filme inglês "O Jogador" (The Grambler), aos 87 anos, sendo esse seu último filme.
Longe do cinema, Luise chegou a participar de algumas séries de televisão como "Combate!" (Combat!) e "O Barco do Amor" (The Love Boat) e fez algumas peças teatrais. Luise foi uma das poucas atrizes da era de ouro de Hollywood, que chegaram aos 100 anos com vida. Seu centenário foi celebrado em Londres, em 12 de janeiro de 2010. Na ocasião, Luise recebeu diversas homenagens e filmes como "Terra dos Deuses" e "A Grande Valsa" (The Great Waltz) ganharam novas exibições. Luise faleceu aos 104 anos em 30 de dezembro de 2014, duas semanas antes do seu 105º aniversário.
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