SANGUE DE BÁRBAROS - O FILME MALDITO

"Sangue de Bárbaros" (The Conqueror), dirigido por Dick Powell e estrelado por John Wayne como uma versão exótica e inverossímil de Genghis Khan, não é apenas um dos filmes mais criticados da história do cinema. Ele também é lembrado por um dos episódios mais trágicos e controversos envolvendo saúde pública em Hollywood — uma história marcada por testes nucleares, negligência oficial e uma assustadora incidência de câncer entre elenco e equipe.

As filmagens ocorreram em 1954, nos arredores de St. George, no estado de Utah — uma região situada a cerca de 220 quilômetros do Nevada Test Site, onde os Estados Unidos realizaram mais de 100 testes nucleares entre 1951 e 1962. Na época, a Comissão de Energia Atômica garantiu que não havia riscos à saúde, permitindo que os estúdios rodassem ali com tranquilidade. Entre os envolvidos, estavam cerca de 220 profissionais que permaneceram no local por 13 semanas, todos expostos a níveis significativos de radiação.

Howard Hughes, produtor do filme e uma figura cada vez mais excêntrica, mandou transportar 60 toneladas da areia radioativa até Hollywood para manter a continuidade visual em refilmagens. Sem saber, estavam levando o perigo diretamente ao coração da indústria cinematográfica.

Com o passar dos anos, os sinais da tragédia se tornaram difíceis de ignorar. Até 1980, 91 pessoas da equipe haviam sido diagnosticadas com algum tipo de câncer — e 46 delas morreram. A lista incluía grandes nomes: John Wayne (câncer no estômago, 1979), Susan Hayward (câncer cerebral, 1975), Agnes Moorehead (câncer uterino, 1974), Dick Powell (linfoma, 1963) e Pedro Armendáriz, que tirou a própria vida em 1963 após receber um diagnóstico terminal. Os números assustaram até mesmo a comunidade científica.

O Dr. Robert Pendleton, da Universidade de Utah, estimou que apenas 30 casos de câncer seriam esperados estatisticamente dentro de um grupo daquele tamanho. Os 91 registrados indicavam, segundo ele, uma possível ligação direta com a exposição radioativa. No entanto, outros especialistas sugeriram que o hábito de fumar, comum entre os profissionais da época, pode ter contribuído para os diagnósticos — o que até hoje impede uma conclusão definitiva.

A tragédia não atingiu apenas os bastidores de Hollywood. Os moradores da região de St. George, conhecidos como downwinders, também sofreram com o aumento de casos de câncer. A ativista Claudia Peterson perdeu diversos familiares e tornou-se um símbolo da luta por reconhecimento. Em 1990, o governo americano criou o Radiation Exposure Compensation Act (RECA), um programa de indenização às vítimas da exposição. O RECA foi encerrado em junho de 2024, sem prorrogação — deixando um vácuo legal para os afetados que ainda buscam reparação.

Tomado por remorso, Howard Hughes comprou todas as cópias de "Sangue de Bárbaros" por US$ 12 milhões, mantendo o filme fora de circulação por anos.  O filme voltou a ser exibido apenas após sua morte.

FONTES
https://www.slashfilm.com/760920/the-forgotten-john-wayne-film-that-left-a-tragic-legacy/
https://www.thetimes.com/world/us-world/article/john-wayne-flop-that-may-have-given-dozens-cancer-ddwtpk6fx?


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