MIRIAM HOPKINS EM LEVADA À FORÇA (THE STORY OF TEMPLE DRAKE)

Miriam Hopkins foi uma das grandes estrelas de Hollywood durante a década de 30. Hoje, injustamente é conhecida por ser uma das grandes rivais de Bette Davis, porém seu legado é maior que isso. Miriam foi um dos maiores nomes do período Pre-Code, onde os filmes eram concebidos sem nenhum tipo de censura (ou sob uma censura mais branda) e assuntos como drogas, prostituição, sexualidade, adultério e assassinato, eram abordados sem o mínimo de pudor ou preocupação.
Com a chegada do Código Hays, os filmes sofreram uma grande transformação e passaram por diversos tipos de censura. Muitos assuntos quando levados aos filmes, passavam pela tesoura da censura ou eram mascarados pelos roteiristas ficando assim nas entrelinhas. Foi no período Pre-Code que Miriam Hopkins esteve no auge de sua carreira, estrelando diversos filmes que firmaram seu nome entre as estrelas mais populares de sua era, mas em 1933, ainda no início de sua carreira, Miriam iria passar por um grande desafio.
O desafio em questão era "Levada à Força" (The Story of Temple Drake), um filme bastante ousado para a época que abordava estupro e dominação. Miriam acabara de vir dos sucessos "O Médico e o Monstro" (Dr. Jekyll and Mr. Hyde) e "Ladrão de Alcova" (Trouble in Paradise) e ansiava por um papel desafiador. E ela teve seu papel desafiador em um filme que causou bastante comoção na época de seu lançamento.
O filme foi baseado em um romance chamado "Sanctuary" escrito em 1931. O romance causou bastante polêmica e contradição por trazer como tema principal o sequestro e estupro da personagem principal. Em 1932, mesmo ciente da comoção que o romance causaria sendo adaptado para o cinema, a Paramount adquiriu os direitos de adaptação. Os produtores então trocaram o nome do filme e suavizaram o roteiro, para que passasse despercebido pela pré-censura estabelecida antes do Código Hays ser imposto em Hollywood.
A pré-censura ainda conseguiu estabelecer diversas censuras ao filme, mas mesmo assim ele causou escândalo entre o público. Mesmo repleto de escândalos, o filme se tornou um dos sucessos do ano. A crítica especializada se dividiu: alguns consideraram o filme bom, enquanto a massa conservadora o descreveu como "lixo". Graças a comoção que o filme causou, em 1933, no ano seguinte o Código Hays seria definitivamente imposto em Hollywood com o intuito de barrar diversos filmes considerados "imorais".
George Raft foi escalado inicialmente para viver o gângster Trigger, mas considerou o papel "sujo" demais e acabou saindo da produção. Foi substituído por Jack La Rue, na época um iniciante na Paramount. Miriam Hopkins não teve nenhum tipo de pudor em aceitar o papel, mesmo sabendo que poderia arruinar sua carreira. Ela sabia que era um papel desafiador e que era um papel para ela. Certa vez em uma entrevista ela declarou: "Havia algo naquele papel. Apenas me deem uma personagem fora do padrão como Temple Drake três vezes ao ano. Me deem os papéis das mocinhas complexas que eu as interpretarei sob a luz do dia delas!".
No filme, Miriam interpreta Temple Drake, a neta de um importante juiz de uma cidade pequena e conservadora. Drake porém, é uma moça livre emocionalmente e sexualmente. Ela é cercada por diversos pretendentes, mas não se sente confortável em casar-se com nenhum deles. Stephen Benbow (William Gargan), advogado, é apaixonado por Drake e a propõe casamento, mas ela  recusa. A vida de Drake muda quando uma noite após uma festa, ela decide sair com um de seus pretendentes Toddy Gowan (William Collier Jr.) de carro. Toddy, bêbado acaba causando um acidente no meio da estrada. Ele e Drake são resgatados por Trigger (Jack La Rue), um gângster envolvido com tráfico de bebidas.
Eles são levados para uma casa, para passarem a noite. Trigger tenta assediar Drake, mas é impedido pela mulher do dono da casa, que sugere que Drake durma no celeiro, onde estaria mais segura. Na manhã seguinte, Toddy é libertado, enquanto Drake está no celeiro. Ela é estuprada por Trigger que acaba assassinando o rapaz que estava de guarda protegendo Drake. Trigger então foge com Drake e a leva para um bordel na cidade onde mantém Drake como prisioneira.
Enquanto isso, o dono da casa, Lee Goodwin (Irving Pichel) é acusado pelo assassinato ocorrido no celeiro e a única pessoa capaz de inocentá-lo é Temple Drake, que após uma situação dramática, retorna para casa e vê-se em um dilema de testemunhar a favor de Lee, mesmo que isso faça com que ela reviva o pesadelo sofrido e tenha a sua reputação arruinada.
O filme chegou a ser proibido em diversos países e com a chegada do Código Hays, foi proibida qualquer tipo de exibição dele nos cinemas anos após seu lançamento. O filme sequer foi exibido na televisão e passou anos na obscuridade. Circulou pela internet cópias de qualidade baixa feitas a partir de coleções particulares. O filme passou por uma restauração em 2011 pelo Museu de Arte Moderna, que posteriormente o exibiu em sessões. Aos poucos, o filme vêm saindo da obscuridade e as pessoas estão podendo conferir o motivo dele ter causado tanto escândalo na época de seu lançamento e ao mesmo tempo conferir uma performance subestimada de Miriam Hopkins e lhe prestar o devido reconhecimento como uma boa atriz que era.

Um comentário:

  1. O romance "Sanctuary" no qual o filme foi baseado é de autoria de William Faulkner, futuro Premio Nobel de Literatura e um dos principais romancistas norte-americanos.

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