A EXPLORAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL NO CINEMA MUDO

Muito antes de Shirley Temple, o cinema já possuía seus astros e estrelas mirins. Muitos deles faziam mais sucesso que os astros e estrelas adultos e alguns trabalhavam bem mais que um adulto. Havia um rígido esquema nos estúdios, na era silenciosa e esse esquema se aplicava também aos talentos precoces. Muitas estrelas infantis foram exploradas com cargas horárias de trabalho que nem um adulto conseguiria suportar, além de cobranças e pressões psicológicas. Durante a era silenciosa, os estúdios mandavam e desmandavam em suas estrelas e não havia nenhuma lei que as protegessem. Por causa disso, o cinema em geral produziu diversos talentos precoces que quando adultos, tiveram um fim trágico, por causa dos transtornos sofridos na infância ou adolescência. Judy Garland é um exemplo clássico. Haviam também as crianças que eram exploradas pelos pais, trabalhando para manter seus luxos. Demorou muito para que chegassem nos estúdios, leis que protegessem os astros mirins. Enquanto essas leis não chegaram, a infância de várias crianças foi destruída.

Lucille Ricksen

Sua trágica morte, fez com que os holofotes se voltassem para como as crianças e adolescentes eram tratados em Hollywood. Para se ter uma noção, ela fazia mais de 10 filmes por ano. Ela, na maioria das vezes fazia papéis de personagens mais velhas, já que os estúdios ocultavam a sua idade. Sua idade foi descoberta e no final ela ganhou a alcunha de "a mais jovem estrela do cinema". Em 1924, durante as gravações de um filme, ela adoeceu. Após um período acamada, voltou a fazer filmes. Em 1925, houve uma piora no seu estado de saúde e ela foi diagnosticada com tuberculose. Em 13 de março de 1925, Lucille faleceu com apenas 14 anos. Sua morte causou um choque na imprensa que afirmou que ela havia morrido por causa de sua rotina de trabalho exaustiva e por pressão de seu agente e de sua mãe (que havia falecido dias antes).

Baby Pegg

Foi uma das mais populares estrelas infantis do cinema mudo e também foi a última sobrevivente desse período: falecendo em 24 de fevereiro de 2020, aos 101 anos. Entre 1921 e 1924 fez mais de 150 curtas-metragens. O seu salário, astronômico para sua idade, era gasto pelos seus pais. Trabalhava cerca de 8 horas por dia, durante 6 dias por semana. Ela raramente frequentava a escola e era colocada sempre em situações de perigo durante as filmagens. Trabalhou diversas vezes doente. Sua carreira findou-se, quando seu pai desentendeu-se com um produtor e cancelou seu contrato. Ela então entrou em uma lista negra. Influenciada pelos pais, tentou um retorno anos mais tarde, já adolescente, porém fracassou. Após uma aparição em um filme em 1938, ela aposentou-se de vez do cinema. A experiência que ela teve quando pequena em Hollywood, foi tão terrível que ela adquiriu aversão ao mundo do cinema, que duraria muitos anos. Após superar essa aversão, tornou-se uma especialista em cinema mudo, escrevendo diversos livros sobre o assunto e participando de diversos documentários. Ela tornou-se também uma defensora dos direitos dos astros infantis.


Bobby Connelly

É considerado um dos primeiros atores mirins do cinema mudo. Começou sua carreira em 1913, aos 4 anos de idade. Alcançou o estrelato em 1914 e em 1917 estrelou uma série de filmes, onde seu nome vinha nos cartazes com bastante destaque, no intuito de ser um sucesso comercial. Em 1920, estrelou "Humoresque", um dos maiores sucessos daquele ano. Em 1917, foi diagnosticado com uma inflamação na camada interna do coração, mesmo assim manteve a agenda exaustiva de gravações. Em 1922, após concluir as gravações de um filme, acabou adoecendo. Morreu de bronquite em 5 de julho de 1922, aos 13 anos.

Jackie Coogan

No cinema mudo, alcançou a fama ao ser escalado por Chaplin para o filme "O Garoto" (The Kid) em 1921. No ano seguinte estrelaria uma versão de "Oliver Twist", outro grande sucesso. Seu rosto estampou diversos produtos: de manteiga de amendoim a bonecos. Seu pai administrava seus lucros, porém um acidente de carro em 1935, o mataria e assim a fortuna de Coogan passou a ser administrada por sua mãe e por seu padrasto. Eles gastaram sua fortuna em carros, casacos de peles, entre outros luxos. Em 1936, Coogan descobriria o desfalque e em 1938 decidiu processar a dupla por má administração do seu dinheiro.  

California Child Actor's Bill - Projeto de lei do ator infantil da Califórnia

É uma lei criada em 1939, para a proteção de astros mirins, fazendo com que uma parte de seus ganhos seja destinada para a sua educação e para quando atingirem a maioridade, além de protegê-los contra a exploração dos adultos. Essa lei foi criada, após o processo de Jackie Coogan contra sua mãe e seu padrasto. Também ficou conhecida como "A Lei de Coogan".

Leis posteriores de proteção ao trabalho infantil no cinema

Posteriormente, foram criadas diversas leis que passaram a proteger crianças e adolescentes no ambiente cinematográfico. As atividades de atores infantis são regulamentadas pelo sindicato trabalhista governante e pelas leis estaduais. Os atores infantis também contam com proteção para seus estudos. A criança não pode ter sua educação escolar interrompida enquanto estiver trabalhando. A criança conta também com a supervisão de um professor contratado pelo estúdio. O ator infantil deve obter uma autorização de trabalho para entretenimento antes de aceitar qualquer trabalho remunerado. 

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