ÍCONES DO CINEMA MUDO - WALLACE REID

Filho de uma família de teatro e dotado de carisma imediato, Wallace Reid tornou-se um dos rostos mais populares do cinema mudo, celebrado como “o amante mais perfeito da tela”. Com presença atlética e olhar fotogênico, ele encarnou o ideal do galã de matinê para plateias em expansão, num período em que Hollywood descobria como transformar astros em fenômenos culturais.

A base dessa projeção foi construída cedo. Nascido em St. Louis, Reid cresceu nos bastidores: a mãe, Bertha Westbrook, era atriz; o pai, Hal Reid, atuava e escrevia peças. Ainda jovem, ele alternou o palco com estudos em colégios internos, praticou esportes e aprendeu instrumentos como piano, banjo, bateria e violino. Essa formação versátil alimentou a confiança diante da câmera e também a curiosidade por funções técnicas do set.

Quando migrou definitivamente para o cinema, Reid trabalhou tanto atrás quanto à frente das câmeras, mas o magnetismo o empurrou para o protagonismo. Colaborou com D. W. Griffith e apareceu em clássicos como “O Nascimento de uma Nação” (The Birth of a Nation) e “Intolerância” (Intolerance). Logo assinou com um grande estúdio e virou sinônimo do herói americano arrojado, muitas vezes associado à velocidade e às histórias de automobilismo, o que reforçou sua aura de modernidade.

O brilho público contrastou com um drama íntimo. Durante filmagens em locação na Califórnia, um acidente o feriu e o tratamento à base de morfina precipitou uma dependência. Mesmo assim, ele manteve ritmo intenso em produções cada vez mais físicas, num ambiente sem programas estruturados de reabilitação. A pressão profissional e a ausência de suporte adequado agravaram o quadro, enquanto a indústria seguia exigindo sua presença em cena.

A tentativa de recuperação acabou interrompida por uma gripe fatal em um sanatório, aos 31 anos. A viúva, Dorothy Davenport, transformou o luto em alerta social ao coproduzir e aparecer em “Decadência Humana” (Human Wreckage), obra que denunciava os perigos do vício e percorreu o país em campanha de conscientização. Recordado hoje com uma estrela na Calçada da Fama, Wallace Reid permanece como símbolo de um período em que Hollywood aprendeu, dolorosamente, a lidar com os custos humanos da celebridade.

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