OS 50 ANOS DA PRIMEIRA VERSÃO DE A VIAGEM

Escrita por Ivani Ribeiro, a trama apresentou ao público uma narrativa ousada para a época, misturando drama, romance e espiritismo em uma reflexão sobre vida após a morte, redenção e justiça espiritual. Meio século depois, a obra segue como referência e ainda desperta curiosidade entre os fãs da teledramaturgia brasileira.

Para introduzir o espiritismo na história, Ivani Ribeiro baseou-se nos livros “E a Vida Continua...” (1968) e “Nosso Lar” (1944), psicografados por Chico Xavier do espírito André Luiz, que retratavam os fundamentos da doutrina. A autora chegou a cogitar adaptar diretamente uma obra do médium, mas o próprio Chico Xavier pediu que a trama apenas abordasse o tema. Para garantir fidelidade, Ivani contou com a consultoria do educador Herculano Pires, reconhecido divulgador do kardecismo, que revisava os roteiros para que fossem condizentes com a teoria espírita.

Com 141 capítulos, a versão original contou com Eva Wilma no papel de Diná, Altair Lima como César Jordão e Ewerton de Castro vivendo Alexandre, o personagem central que, após morrer na cadeia, retorna do plano espiritual para atormentar aqueles que considera responsáveis por sua desgraça, incluindo o cunhado Téo e o advogado César. O enredo, que intercalava os mundos terreno e espiritual, foi inovador e conquistou o público. O elenco reuniu ainda Irene Ravache como Estela, Joana Fomm como Andreza, Tony Ramos como Téo, Elaine Cristina como Lisa, entre outros. Claudio Corrêa e Castro também teve participação marcante como o mentor espiritual Daniel.

O lançamento da novela foi marcado por uma situação inesperada na televisão brasileira. Após a TV Globo ser impedida pela censura de exibir “Roque Santeiro” e ter que reprisar “Selva de Pedra” no horário das 20h, a Rede Tupi aproveitou a brecha e adiantou a estreia de “A Viagem” como única produção inédita da faixa, encurtando inclusive a duração de sua antecessora “Ovelha Negra”. Assim, a obra ganhou maior visibilidade e se consolidou como aposta ousada em meio a um cenário de forte intervenção política no entretenimento.

Outro detalhe marcante foi a abertura da novela. Na versão de 1975, era mostrado um livro em fundo azul e amarelo, cujas páginas revelavam os nomes do elenco e equipe, encerrando com a famosa frase de Shakespeare: “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que a vã filosofia dos homens possa imaginar.” Já na reprise de 1980, “A Viagem” ganhou novo logotipo e uma abertura que exibia obras de arte representando a divisão entre céu e inferno, em imagens metafísicas e esotéricas. Essa reapresentação, exibida de março a julho daquele ano em 95 capítulos, marcou o fim de uma era: foi a última novela transmitida pela Tupi, que encerrou suas atividades logo em seguida.

Do total de 141 capítulos exibidos originalmente, 104 estão preservados, hoje sob a guarda da Cinemateca Brasileira, o que faz de “A Viagem” uma das novelas mais bem conservadas da antiga TV Tupi. Esse legado é valioso, considerando o grande número de produções da emissora que se perderam ao longo do tempo. 

Cinco décadas depois, “A Viagem” permanece como um marco da televisão brasileira. Sua relevância foi tamanha que, em 1994, a Rede Globo produziu uma regravação que também se tornou sucesso, provando que o enredo concebido por Ivani Ribeiro mantém sua atualidade e poder de emocionar diferentes gerações.

Post a Comment

Obrigado por comentar!!!

Postagem Anterior Próxima Postagem