NORMA SHEARER X JOAN CRAWFORD: O EMBATE DE DIVAS

Joan Crawford e Norma Shearer eram as atrizes mais famosas e mais rentáveis da MGM, durante boa  parte da década de 30. Ao lado de Garbo, ambas detinham a alcunha de "Rainhas da MGM". E não era exagero. As três fizeram por merecer o título. Mas das três a que teve mais facilidade foi Norma Shearer, graças ao seu casamento com o produtor da MGM Irving Thalberg, que lhe proporcionou diversas regalias, que de certa forma contribuíram para o conflito entre ela e Joan Crawford.
Joan Crawford nunca teve uma vida fácil. Era sempre testada de todas as maneiras. Tinha sempre que se impôr de alguma forma. Tinha sempre que estar provando algo para alguém. Joan teve uma infância bastante modesta, sendo abandonada pelo pai. Norma Shearer teve uma educação bastante privilegiada, porém sofreu na infância, com seu pai que possuía transtornos mentais. Logo após seu pai perder dinheiro nos negócios, Norma Shearer se viu cercada de pobreza. Além do pai, agora ela contava com uma irmã com transtornos mentais. Foi graças a sua mãe, que Norma Shearer conseguiu entrar em Hollywood.
Já no início da década de 20, tanto Norma, quanto Joan (que na época usava seu nome de batismo), já estavam na MGM. Em 1924, Norma Shearer foi lançada ao estrelado com "Lágrimas de Palhaço" (The Who Gets Slapped), filme protagonizado por Lon Chaney. Joan ainda lutava pelo seu lugar ao sol. No ano seguinte (1925) os caminhos de Norma e Joan Crawford se cruzaram pela primeira vez em "A Dama da Noite" (Lady of the Night), filme dramático silencioso, onde Norma era a protagonista e desempenhava gêmeas. Joan no caso foi usada em uma cena onde as gêmeas precisavam ficar frente a frente. (foto abaixo)
No final da década de 20, Joan Crawford já era considerada uma das estrelas em ascensão da MGM, enquanto Norma Shearer se casava com Thalberg. Foi nessa época que a rivalidade começou, já que Crawford se sentia ameaçada por Shearer, pelo fato dela ter mais privilégios e escolher papéis. A rivalidade se tornou forte, quando Joan Crawford teve em mãos o argumento de um livro chamado "Ex-Wife", que falava sobre uma mulher traída, que decidia dar o troco no marido. Joan sentiu que esse seria um grande papel para sua carreira e procurou Thalberg e lhe sugeriu a compra dos direitos, para que ela pudesse estrelar o filme. 
Porém Thalberg achou melhor colocar a esposa no projeto e tal atitude magoou profundamente Joan Crawford. Porém não foi fácil a entrada de Norma Shearer no projeto. Os produtores e Louis B. Mayer não achavam Norma Shearer que até então só interpretava boas moças, apta para um papel tão sensual e oposto ao que ela estava acostumada. Então Thalberg encomendou um ensaio sensual, onde Norma usava lingerie e com isso convenceu que sua esposa era a escolha certa. Norma foi aprovada e pelo seu desempenho levou o Oscar, desbancando Greta Garbo que era a favorita da disputa pelo prêmio.
Após o Oscar em "A Divorciada" (The Divorceé), Norma teve mais privilégios em escolher os melhores papéis e entrou em uma fase de êxitos como "Uma Alma Livre" (A Free Soul), "Mentiras da Vida" (Strange Interlude), entre outros. Joan Crawford foi escolhida para ser uma das estrelas de "Grande Hotel" em 1932, porém ela teve que dividir atenções com Greta Garbo. Joan conseguiu brilhar e seu nome ficou mais popular, entrando nas listas dos dez nomes mais rentáveis de bilheteria. Joan amargaria um forte fracasso em "Rain", onde desempenhava o papel da prostituta Sadie Thompson. Na mesma época ela se divorciava de Douglas Fairbanks Jr. Em 1936, Norma Shearer ficaria viúva de Thalberg e começaria a fazer menos filmes.
As duas dividiram o mesmo set novamente em 1939, ao filmarem "As Mulheres" (The Women), sob direção de George Cukor. Joan Crawford teve que lutar para ficar com o papel de Crystal Alley, a antagonista do filme. Louis B. Mayer não queria Joan Crawford interpretando uma destruidora de lares, porém os argumentos de Joan foram mais fortes e ela conseguiu o papel, que poderia enterrar de vez a sua carreira. Mesmo com Norma enfrentando alguns filmes de pouco sucesso comercial, além de não ter mais a proteção de Thalberg, seu poder no set de filmagem ainda era notório. As regalias continuavam. O departamento de publicidade da MGM, tendo ciência de que a rivalidade das duas estrelas poderia render para o filme, usou e abusou de diversas estratégias, mas quem se beneficiou de fato com a rivalidade, foram as colunistas de fofocas. Começaram os rumores de que Norma Shearer exigia os melhores planos de filmagem, os melhores vestidos e também os melhores diálogos. Houve um rumor de que Norma chegava até a escolher os vestidos que Joan Crawford deveria usar, para que eles não ofuscassem os que ela vestiria.
Quem ficou no meio do fogo cruzado foi George Cukor, mas sua situação não era nem de longe embaraçosa, ele no fundo estava adorando o clima de animosidade entre as estrelas, pois isso rendia publicidade para o seu filme e com isso as pessoas iriam para o cinema presenciar com seus próprios olhos o resultado final. Para piorar a situação, entre o elenco composto apenas por mulheres, se encontrava Hedda Hopper, uma das colunistas de fofocas mais maldosas e dissimuladas da época. Óbvio que Hedda foi uma das colunistas que pôs fogo na briga e levava bastante credibilidade, já que ela fazia parte do elenco e as pessoas então acreditavam no que ela escrevia a respeito dos bastidores. 
Quando o filme chegou nos cinemas, as pessoas correram para conferirem com seus próprios olhos os desempenhos de Joan e Norma. A publicidade em cima da rivalidade das duas deu certo e o filme foi um sucesso de bilheteria. Joan Crawford conseguiu um novo fôlego para sua carreira após o filme e estrelou o drama "Um Rosto Marcado" (A Woman's Face), sendo bastante elogiada, mas esnobada pela Academia, sem ao menos receber uma indicação pelo papel. Após quatro anos, Joan foi demitida da MGM e foi pra Warner onde estrelou alguns filmes que deram uma sobrevida à sua carreira, chegando até a ganhar um Oscar. 
Após a morte de Thalberg, Norma travou uma batalha conta a MGM, por causa dos lucros que Thalberg deveria receber pelos filmes. Norma conseguiu receber os lucros e ainda assinou um contrato para mais seis filmes, porém ela seria boicotada pela MGM, como forma de vingança. Mesmo sendo boicotada, estrelou "Maria Antonieta", em 1938, sucesso comercial, que lhe deu a sua última indicação ao Oscar. Após "As Mulheres" conseguiu atingir um último sucesso ao estrelar um filme de espionagem chamado "Escape", em 1940. 
Após estrelar "Idílio à Muque" (Her Cardboard Lover), sob direção de George Cukor em 1942, filme que fracassou em bilheteria e crítica, Norma decidiu se aposentar. Após sua aposentadoria, Norma casou-se mais uma vez e levou uma vida mais reclusa, aparecendo pouco na cena social. Durante os anos de disputa entre as atrizes, Joan Crawford sempre alternava discursos bons e ruins sobre Norma Shearer, enquanto Norma nunca se pronunciou oficialmente, se tal rivalidade existiu ou não. Existe uma foto feita nos anos 50, em que Joan e Norma demonstram carinho e respeito uma com a outra, provando que qualquer rivalidade que pudesse ter existido entre ambas era agora coisa do passado.
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