LOUISE BROOKS - ABRINDO A CAIXA DE PANDORA

Louise Brooks é lembrada até hoje por sua atuação única e inesquecível em "A Caixa de Pandora" (Die Büchse der Pandora) de 1929. Porém Louise foi muito mais que uma atuação em um filme: era uma mulher de personalidade, opinião e caráter, além de ser corajosa e decidida. Tais elementos em um ambiente bastante dominado por homens, tornaram-se sua ruína. Chegou a ser sabotada e teve sua carreira no cinema limada, porém com os anos, o mito renasceu e Louise Brooks segue até hoje como uma das atrizes e mulheres mais fascinantes e inspiradoras que já surgiram no cinema.
Seu nome de batismo era Mary Louise Brooks e além de atriz, era modelo e dançarina. Brooks nasceu em 14 de novembro de 1906, no Kansas. Seu pai era um advogado e sua mãe uma pianista que desde cedo apresentou música e literatura para seus quatro filhos. Aos quatro anos, Louise fazia sua estreia como bailarina e aos dez já se apresentava em salões, clubes e teatros. Em 1922, se junta a uma grande companhia de dança dos Estados Unidos e no ano seguinte sai em turnê por diversos estados, sempre com grande sucesso nas apresentações.
Em 1925, Brooks fazia parte da Ziegfeld Follies, na Broadway, onde acabou despertando a atenção de um produtor da Paramount. Louise então assinou um contrato de cinco anos com o estúdio. Sua estreia aconteceria ainda em 1925, no filme "The Street of Forgotten Men", seu nome não aparece nos créditos. Em 1928, Brooks atuou em "Os Mendigos da Vida" (Beggars of Life), interpretando uma moça que mata seu pai adotivo que lhe abusava, em um ato de desespero. Na vida real, Brooks havia sido abusada aos nove anos, por um vizinho. Tal evento mudou drasticamente sua vida, principalmente quando contou à sua mãe o evento e esta lhe disse que o abuso ocorreu, por causa da própria Brooks.
Em 1928, G. W. Pabst estava procurando uma atriz para desempenhar o papel principal de seu próximo filme. Ao assistir "Uma Garota em Cada Porto" (A Girl in Every Port), Pabst viu Louise Brooks que integrava o elenco e com ela, características ideais para interpretar a protagonista de seu filme, porém não foi nada fácil conseguir Brooks para seu filme, pois a Paramount negou emprestá-la para a produção.
O primeiro ato de rebeldia de Brooks, aconteceu logo após o fim das gravações de "Os Mendigos da Vida". Brooks havia pedido um aumento e a Paramount lhe negou. Decidida, simplesmente abandona o estúdio, mesmo sofrendo ameaças de boicote. Ao abandonar o estúdio, fica sabendo que Pabst tem uma proposta para ela. A Paramount até então havia escondido dela, que havia um diretor interessado em seu trabalho.
Brooks viaja para a Alemanha, para fazer o filme que definitivamente lhe imortalizaria na história do cinema: "A Caixa de Pandora". No filme Louise Brooks interpreta uma prostituta chamada Lulu, que durante todo o filme é vítima de manipulações e crueldades impostas pelos homens. Mesmo "A Caixa de Pandora", sendo um filme bastante polêmico e que de certa forma reverenciava a liberdade sexual e ao mesmo tempo tocava nas feridas da sociedade, acabou fazendo bastante sucesso e impulsionou Louise Brooks para o real estrelato. 
Seu próximo filme ainda na Alemanha, seria "Diário de uma Garota Perdida" (Tagebuch einer Verlorenen), novamente com Pabst e mais um filme bastante controverso. O filme baseado em um romance homônimo de Margarete Böhme, já havia sido filmado antes, em 1918, essa versão porém está perdida. Em 1930, Brooks protagonizou "Prix de Beauté", um dos primeiros filmes franceses sonoros, porém todas as suas falas foram dubladas. Anos mais tarde esse filme foi remontado como um filme silencioso. 
Enquanto estava pela Europa, a Paramount procurava desesperadamente entrar em contato com Brooks, pois um filme que ela havia gravado e que não fora lançado, ia ser transformado em um filme falado. O filme em questão seria "The Canary Murder Case", filmado em 1929 e que além de Louise Brooks, contava também com William Powell e Jean Arthur no elenco. A Paramount precisava que Brooks retornasse para os Estados Unidos, para dublar suas cenas. Depois de ignorar os contatos do estúdio, Brooks ao retornar para os Estados Unidos, recebe uma oferta tentadora do estúdio, mas no final ela acaba recusando. Foi então que Brooks começou a ser boicotada: sofreu uma ameaça de que se não dublasse suas cenas, jamais trabalharia novamente em Hollywood. Em mais um ato de rebeldia, ela ignorou todas as ameaças e simplesmente não aceitou a proposta. 
Os executivos da Paramount então começaram uma campanha para difamá-la: espalharam que sua voz era inadequada e que por isso ela havia recusado dublar sua personagem no filme. Margaret Livingston acabou dublando-a no filme. Na época em que a campanha de difamação contra Brooks acontecia, o cinema estava em transição para os filmes falados e nessa época muitos atores e atrizes viram suas carreiras se findarem. E Louise Brooks viu sua carreira ser injustamente denegrida.
Louise chegou a fazer dois filmes em 1931, porém passou despercebida pela crítica. Informalmente, ela estava em uma lista negra de Holywood. Mesmo boicotada, recebeu um convite para atuar em "Inimigo Público" (The Public Enemy), convite que recusou e o papel acabou indo para Jean Harlow que teve ascensão em sua carreira graças ao papel. Muitos afirmam que a recusa de Brooks, foi o fator decisivo para seu ostracismo nos anos seguintes.
Sem trabalho, Brooks declarou falência em 1932 e passou a dançar em boates para ganhar a vida. Entre 1936 e 1938 chegou a fazer filmes e em alguns sequer foi creditada. Após fazer "Bandidos Encobertos" (Overland Stage Raiders) em 1938, como par romântico de John Wayne, Brooks decide de vez abandonar o cinema. Nos anos seguintes em total ostracismo, chegou a trabalhar como vendedora em uma loja de sapatos. 
Na década de 50, Louise Brooks seria redescoberta por uma nova geração e seria relembrada por saudosos fãs, ao ter enorme destaque em uma exposição no Museu da Arte Moderna em Paris, em 1955. Louise foi redescoberta por James Card, na época curador da fundação George Eastman House, que a trouxe de Nova York para Rochester, onde a fundação ficava. Com a ajuda de Card, Brooks se tornou uma escritora de cinema. Seus escritos viraram um livro chamado "Lulu em Hollywood", publicado em 1982, sendo um grande sucesso de vendas. 
Louise Brooks faleceu em 8 de agosto de 1985, aos 78 anos de idade em Nova York, vítima de um ataque cardíaco. Morreu sozinha. Certa vez em uma entrevista ela disse que desde que abandonou sua cidade natal, para fazer carreira, sentia que havia falhado em tudo na vida, com toda a certeza ela achava que um dia seria esquecida, que seus filmes sairiam de moda e que ela seria apenas uma lembrança vaga e distante na história do cinema, mas o contrário aconteceu. Louise segue até hoje fascinante e inspiradora, seja pela sua contribuição para a história do cinema ou pela sua rebeldia contra um sistema altamente machista e controlador. Louise Brooks jamais sairá de moda ou jamais será esquecida, mesmo com todos os boicotes e dificuldades que lhe foram impostas, o mito sobrevive até hoje.

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