SABRINA E AS DIFERENÇAS DE CLASSES SOCIAIS

Se não fosse pelo texto sarcástico de Billy Wilder que também dirigiu o filme, "Sabrina" poderia ser mais um filme de Hollywood com toques de contos de fadas. Junto com Samuel A. Taylor e Ernest Lehman, Wilder fez um filme romântico, mas com alguns diálogos bastante ácidos focados em diferenças de classes sociais. A crítica social está presente durante todo o filme, mostrando os personagens ricos e pobres divididos por uma vidraça invisível, como se estivessem dentro de uma limusine.

Sabrina (Audrey Hepburn) é a filha do chofer da família Larrabee, dona de um conglomerado de empresas. Desde a infância ela é apaixonada por David (William Holden), um playboy mulherengo. Ela tenta de todas as formas chamar a atenção do rapaz, mas é sempre advertida por seu pai que há uma diferença social entre ambos e que jamais ele lhe dará atenção. Após uma festa na mansão da família, onde ela presencia David envolvendo-se com uma moça de sua classe social, Sabrina parte para Paris e fica por lá durante dois anos, fazendo curso de culinária.

Em Paris, ela desperta a afeição de um barão bem mais velho que ela, que lhe ensina a ser sofisticada e lhe apresenta a alta roda parisiense. Quando retorna, Sabrina está totalmente diferente, mais bonita e refinada, porém continua sendo a filha do chofer da mansão. Após reencontrar por acaso com David, Sabrina acaba finalmente despertando a atenção dele, mas fica nítido que ele sente apenas uma atração física por ela. 

O envolvimento entre David e Sabrina acaba causando transtornos tanto para o pai dela, que não aceita que a filha se envolva com o patrão, tanto para a família Larrabee que está prestes a fechar um negócio com a família da noiva de David. Para evitar que os negócios não se concretizem, o irmão mais velho de David, Linus (Humphrey Bogart), planeja seduzi-la e deportá-la para Paris novamente, porém ele acaba se apaixonando por ela. 

Embora seja um filme romântico, "Sabrina" acaba apresentando uma crítica social sobre as diferenças de classes em diversos diálogos. O público fica ciente o tempo inteiro de que os personagens estão sempre divididos e os próprios personagens fazem essas divisões, tanto os ricos quanto os pobres. O pai de Sabrina possui uma consciência de classe distorcida onde ele reconhece que pertence a uma classe inferior, mas ele acha que não pode de forma alguma evoluir e muito menos se misturar com os ricos. Ele testemunha o que está acontecendo com sua filha e lhe adverte dizendo que ela está "querendo alcançar a Lua", tentando dizer que por ser filha do chofer, ela não pode ter uma vida melhor. Ele também acha que sua filha não pode pertencer à classe pobre, mas também não a vê em uma situação social superior.

Os Larrabee também fazem divisões sociais, buscando relações apenas com pessoas do mesmo nível. O casamento do filho David foi armado estrategicamente para o crescimento dos negócios e com a chegada de Sabrina, a filha do chofer, tudo isso pode ir por água abaixo. Sabrina acaba sendo vista como uma "ameaça" pelos Larrabee. Mesmo sendo uma moça sofisticada e elegante, ela jamais poderá fazer parte da família por ser filha do chofer. Sabrina também é vista por eles como uma alpinista social, eles acreditam que ela está se relacionando com David por dinheiro.

Filmado em 1954, o filme é baseado na peça "Sabrina Fair", escrita um ano antes e sucesso absoluto na Broadway. Na peça, os papéis de Sabrina e Linus, foram interpretados por Margaret Sullavan e Joseph Cotten. Em 1995, foi produzido um remake, com algumas modificações no enredo, protagonizado por Julia Ormond e Harrison Ford, sob a direção de Sydney Pollack, sendo um fracasso de bilheteria, mas agradando boa parte dos críticos. 

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