CINEMATECA - A DEUSA (1934)


"A Deusa" (神女 - Shen nu) é um filme que faz parte do cinema mudo chinês, realizado em 1934. Soa estranho para alguns cinéfilos saber que em 1934 ainda se produzia filmes mudos, mas é importante lembrar que cada país teve sua dificuldade na implementação de tecnologia para a produção de filmes sonoros. 

Os personagens apesentados no filme não possuem nome, a mulher é tratada pela alcunha de "Deusa" e seu antagonista pela alcunha de "Chefe". A "Deusa" é uma mãe solteira devotada ao filho, fazendo diversos sacrifícios para que ele futuramente seja um homem digno. Um desses sacrifícios é prostituir-se à noite, juntando dinheiro para enviar o filho para uma escola decente.

Em uma dessas noites de trabalho, ela, ao fugir de uma inspeção da polícia, acaba entrando na casa de um homem chamado "Chefe", ele descobre que ela é uma prostituta e a chantageia com uma noite de sexo em troca de não entregá-la para a polícia. Ela cede. Após isso ele consegue descobrir onde ela vive e passa a morar com ela, explorando-a e pegando o dinheiro que ela ganha se prostituindo para gastar em jogatina.

Num ato de desespero, a Deusa decide fugir com seu filho, mas o Chefe acaba encontrando-a e ameaça separá-la de seu filho caso fuja novamente. Ela então decide não fugir mais por medo de perder seu filho. Mesmo sendo explorada e roubada, a Deusa consegue juntar e esconder dinheiro e consegue mandar seu filho para uma escola. Seu filho é estigmatizado pelos adultos da vila em que vive, pelo fato da profissão de sua mãe. Ele é privado da convivência com outras crianças.

Na escola, o filho da Deusa mostra ser um garoto bastante inteligente e estudioso e isso gera a inveja dos pais das outras crianças. Os pais se reúnem e mandam uma carta para a direção da escola exigindo a expulsão do garoto pelo fato de sua mãe ser uma prostituta. Mesmo contra o protesto do diretor da escola, o garoto é expulso. A Deusa então decide mudar-se com o filho e percebe que o dinheiro que havia guardado, havia sido roubado pelo Chefe. Ela então toma uma atitude drástica para proteger o futuro de seu filho.

Embora o filme tenha quase seus 90 anos, continua sendo bastante tocante e reflexivo e infelizmente atual. O filme toca na questão da mulher como mãe solteira, além da prostituição, que no caso dessa história foi uma consequência pelo fato da personagem não conseguir um emprego. A prostituição não é erotizada e muito menos estereotipada. O filme faz questão de mostrar uma mulher comum se prostituindo para sobreviver, sem algum tipo de glamour e tendo o futuro do filho como motivação.

A personagem mesmo sendo oprimida e hostilizada, possui uma força enorme. Mesmo em desvantagem, ela luta por ela por seu filho durante o filme todo. O interessante é que não surge durante o filme nenhum interesse romântico "que a salve" no final do filme, fugindo do clichê óbvio. Inclusive o final é bastante melancólico e pode ser que incomode, por surgir um homem que decide "consertar" a situação dramática, oferecendo uma solução que poderia ter sido ofertada anteriormente, mas de uma forma diferente.

A Deusa é interpretada por Ruan Lingyu, uma das mais importantes atrizes do cinema chinês deste período. Ela era bastante popular e mesmo interpretando uma prostituta, papel que poderia não ser tão bem aceito pelo público, ela obteve aclamação. Infelizmente ela teve um final trágico, suicidando-se aos 24 anos. Cheguei a escrever sobre ela aqui no blog.

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