GARBO RI EM NINOTCHKA

"Garbo Ri!". Foi esse o slogan de lançamento do filme "Ninotchka". Anos antes, em 1930 pra ser exato, um slogan parecido anunciava o primeiro filme falado da estrela sueca. "Garbo Fala!" foi o slogan de lançamento de "Anna Christie". A euforia foi enorme, já que o público estava bastante ansioso em ouvir pela primeira vez a voz daquela atriz tão sensual, misteriosa e reservada. O filme foi um sucesso. A voz de Garbo foi aceita. Uma versão alemã da história foi gravada e Garbo seguiu em frente. Após uma série de papéis dramáticos, a MGM decidiu que estava mais que na hora de uma de suas principais "rainhas" estrelar uma comédia.
A ideia original de "Ninotchka", foi de Melchior Lengyel, um escritor húngaro que conhecia Greta Garbo. Ele apresentou um esboço da história para Garbo, que gostou do que leu. Inicialmente George Cukor dirigia o filme. Cukor e Garbo haviam trabalhado juntos em "Camille" e eram amigos. Tal proximidade transmitia segurança para Garbo, porém Cukor teve que deixar o projeto, para dirigir "E o Vento Levou" (Gone with the Wind). A saída de Cukor causou uma insegurança em Garbo que mesmo gostando do esboço da história, estava muito apreensiva em aparecer em uma comédia. Ela tinha medo de ser ridicularizada. Na famosa cena da risada, ela se sentiu a princípio incapaz de rir.
Com a saída de Cukor, foram sugeridos dois nomes para dirigi-la: Edmund Goulding ou Ernst Lubitsch. Lubitsch conseguiu levar a melhor, porém teve que lutar contra Louis B. Mayer, que não o considerava "bom e comercialmente apto" para dirigir um filme estrelado por Greta Garbo. Ironicamente, Cukor acabou sendo demitido de "E o Vento Levou" e foi convocado para dirigir "As Mulheres" (The Women), filme que Lubitsch a princípio dirigiria, mas que acabou sendo demitido. O roteiro inicialmente escrito por Gottfried Reinhard e SN Behrman, não agradou Lubitsch, que dispensou-os e encomendou uma nova escrita para o então roteirista Billy Wilder (com quem já havia trabalhado antes), junto com Charles Brackett e Walter Reisch. 
No livro "Ninguém é Perfeito", Bily Wilder fala um pouco sobre os bastidores de "Ninotchka":
"A única pessoa que causou problemas fui eu. Estava sempre tentando entrar no set e ficar por lá e ouvir as falas. E estava ansioso por observar Garbo. Mas ela flagrou-me. Vi que não gostou que eu ficasse olhando, então sumi rapidamente. Ela disse que eu deveria ser proibido de voltar para olhar quando ela estivesse atuando - e eu fui". Disse Wilder.
Garbo ficou bastante apreensiva quando precisou filmar a sequência em que Ninotchka ficava bêbada. Garbo chegou a pedir para Lubitsch, para eliminar a cena, porém Lubitsch a tranquilizou, dizendo que ela conseguiria fazer aquela cena e que a história do filme foi construída em torno dessa cena e seria impossível removê-la. Sobre esse episódio, Wilder comentou: "Garbo era uma atriz bastante obediente. Gostava de receber ordens, Pensamos que Lubitsch poderia pedir para que nós reescrevêssemos a cena, mas ele lhe disse: 'A cena é perfeita para você. Você vai se sair muito bem'. E realmente se saiu".
Wilder comenta também um dos encontros que teve com ela, já quase perto do final da vida de Garbo: "Encontrei-a com Douglas Fairbanks Jr. e ele perguntou-lhe qual era seu papel preferido. 'Ninotchka', respondeu. Fairbanks perguntou por quê. 'Comédia. Encontrei minha risada. Foi bom fazer as pessoas darem risada depois de tantas lágrimas'." A mais famosa cena, justamente é a que reforça o slogan de lançamento do filme: a cena em que após diversas tentativas desastrosas em fazer com que Ninotchka risse, o personagem de Melvyn Douglas acaba caindo da cadeira e com isso leva a então séria Ninotchka desabar no riso. No livro "Garbo", escrito por Barry Paris, há um comentário de Lubitsch a respeito da cena: "Havia apenas uma coisa que me preocupava. Não sabia se ela se ela conseguiria rir, porque eu não teria um final, se ela não desse risada. Um dia perguntei a ela, 'Você sabe rir?' e ela respondeu, 'Acho que sim'. Perguntei, 'Costuma rir?' Ela respondeu, 'Não muito'. E eu lhe perguntei 'Pode dar uma risada agora?' Ela respondeu 'Amanhã eu dou'. No dia seguinte voltou e falou 'Estou pronta para rir'. Ela riu e foi um espetáculo. Para a cena da risada, Lubitsch teve que tirar praticamente toda a equipe do estúdio.

Para o papel de Leon, temos Melvyn Douglas, porém ele não havia sido nem de longe a primeira opção para o papel. Nomes como Spencer Tracy, William Powell, Robert Montgomery e Cary Grant, foram cotados antes do seu. A parceria de Melvyn e Garbo deu tão certo, que eles estrelariam "Duas Vezes Meu" (Two-Faced Woman), que seria o último filme de Garbo. "Ninotchka" conta a história de Nina Yakushova (Garbo), que é uma comissária do governo soviético, que acaba sendo mandada para Paris, a fim de averiguar o desaparecimento de três representantes do governo que estão em Paris negociando vendas de joias. Ao chegar em Paris, Ninotchka conhece o galante e sedutor Leon (Douglas) que é amante da  Grã Duquesa Swana (Ina Claire) que era a antiga dona das joias que estão sendo negociadas. Ninotchka e Leon se apaixonam, mas a Grã Duquesa não vai facilitar a vida dos dois, principalmente a de Ninotchka. O filme chegou aos cinemas em 1939, um mês após o início da Segunda Guerra Mundial na Europa, onde se tornou um grande sucesso, porém foi banido da União Soviética, que considerou o filme uma afronta. "Ninotchka" recebeu quatro indicações ao Oscar, dentre elas a de Melhor Atriz para Garbo. Essa seria a sua quarta e última indicação ao Oscar e Garbo acabou perdendo para Vivien Leigh.

Com o sucesso de "Ninotchka", a MGM percebeu que Garbo seria uma mina de ouro em comédias e decidiu então apostar nesse gênero. Só que o pior erro de Louis B. Mayer estava prestes a acontecer: "Duas Vezes Meu" (Two-Faced Woman). O roteiro do filme se baseava em uma peça antiquada de Viena e até se chegar em "Two-Faced Woman", foram pensados mais de 10 títulos para o filme. Melvyn Douglas voltou a fazer par com Garbo e para o papel da antagonista, a excelente Constance Bennett, que chegou a ofuscar Garbo em várias cenas. A MGM confiou a George Cukor a direção do filme. Curiosamente no mesmo período, chegou a ser oferecido para Garbo, o papel de Anna Holm em "Um Rosto de Mulher" (A Woman's Face). Se ela tivesse aceitado, Cukor a dirigiria. Porém Garbo ficou receosa em interpretar uma mulher aparentemente má e decidiu continuar no projeto de "Duas Vezes Meu". Joan Crawford ficou com o papel de Anna Holm e esse é um dos seus melhores desempenhos. Mesmo com tantos problemas nos bastidores, a MGM estava confiante no sucesso de "Duas Vezes Meu" e estava disposta a transformar Garbo em uma mulher comum, tirando toda a sua aura misteriosa e sensual, que ela construiu durante todos os anos anteriores. Conclusão: o filme fracassou nas bilheterias, levou duras críticas e ainda enfrentou a fúria de grupos religiosos conservadores, que não aceitaram a história do filme, tachando-o como um filme obsceno. Com tamanha negatividade, de comum acordo Garbo e MGM romperam o contrato. A princípio Garbo retornaria aos filmes após a Guerra, porém nunca conseguiu firmar o seu retorno, até que chegou um determinado momento em que a própria Garbo não sentiu mais vontade em retornar e desistiu de vez do cinema, tornando-se um mito por esse fator.
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