O INÍCIO E O FIM DO CINEMA MUDO

O Ser Humano sempre foi fascinado por imagens em movimento. Bem antes do cinema surgir, existiam as sombras chinesas. As sombras chinesas consistiam em um boneco sustentado por varas, uma luz e um fundo. O público sentava diante dessa tela e ficava fascinado ao ver aquele jogo de sombras se movimentando. O cinema existe hoje, graças a diversos experimentos datados bem antes  dos considerados "pais do cinema": Thomas Edison, Georges Méliès, os irmãos Lumière, entre outros. 
A primeira menção sobre um experimento que remetia ao cinema é datada em 1420, na Itália. Esse experimento, consistia em uma lanterna que projeta numa parede, um quadro pintado no seu cilindro de vidro, essa foi a primeira menção de uma lanterna que reproduzia uma imagem aumentada em uma parede. Em 1640 surgiu a "Lanterna Mágica", uma lanterna que reproduzia em uma parede, uma imagem aumentada, pintada em um cilindro de vidro, uma versão mais aprimorada do primeiro experimento de 1420.
Em 1784, na França E. G. Robert aperfeiçoa a lanterna mágica, construindo o fantascópio, que consistia em criar movimentos a partir do deslocamento de figuras desenhadas. Em 1872, nos Estados Unidos, são feitas as primeiras fotografias em série, em 24 chapas distintas, com intervalos desiguais. Em 1887 Thomas Edison inventa o Cinetoscópio, primeira máquina com progressão intermitente da fita, de imagem em imagem, por meio de engrenagem. A fita ficava imóvel durante a exposição e durante o movimento, era protegida contra a luz, por um diafragma. Em 1889 é fornecido a Edison o primeiro filme de celuloide sensível à luz e provido de perfurações. 
Em 1891, Edison patenteia as fitas de celuloide. No mesmo ano, na Alemanha, ocorre a primeira exibição de imagens fotográficas em movimento. Na França, em 1894, os irmãos Louis-Jean e Auguste-Marie-Louis-Nicholas Lumière inventam a câmera cinematográfica e rodam no ano seguinte, o seu primeiro filme: "A Saída dos Operários da Fábrica Lumière"e solicitam a patente do Cinematógrafo.
Os primeiros filmes não possuíam enredos e eram feitos em tom documental. Em 1903, surge "O Grande Roubo do Trem", de Edwin F. Porter, que marcaria o cinema, por trazer uma história sem o tom documental. "O Grande Roubo do Trem", iniciaria uma onda de filmes de ação com enredo, despertando a atenção do público. Nessa época, esses filmes eram exibidos em teatros de Vaudeville, nos intervalos, ou nos finais dos espetáculos, na intenção de fazer com que o público se retirasse mais depressa das salas, porém o inverso aconteceu: as pessoas ficaram fascinadas por aquelas imagens em movimento e assim os espetáculos de Vaudeville começaram a ser ameaçados pelos filmes.
Mesmo com os filmes despertando a atenção das pessoas, muitos empresários de Vaudevilles, não viam ameaça nos filmes, achavam que aquilo era uma moda passageira. Ainda nessa época, os filmes eram exibidos no final dos espetáculos. Por causa da comoção, passaram a ser exibidos no meio dos espetáculos, como forma de segurar a audiência, caso um espetáculo fosse ruim. Um ano antes, em  1902, surgia "Viagem à Lua" (“Le Voyage dans la Lune”) de Méliès, considerado o primeiro filme de Ficção Científica do Cinema.
Em 1909, foi o grande "boom!" do Cinema Mudo. Grandes estúdios surgiram, enquanto outros que haviam surgido anteriormente, como a Biograph e a Pathé, se tornaram bastante populares. Em 1915, o cinema já se tornara algo popular: as salas de cinema cresciam e boa parte dos estúdios se mudaram para Hollywood. Em 1919 surge a United Artists, primeiro estúdio independente da história do cinema, fundado por Charles Chaplin, D.W. Griffith, Mary Pickford e Douglas Fairbanks. O estúdio no cinema mudo produziu clássicos como "O Ladrão de Bagdá" (The Thief of Bagdad), "O Pirata Negro" (The Black Pirate), "Robin Hood", entre outros. 
Além da falta de som nas películas, o Cinema Mudo era caracterizado por atuações que davam ênfase à expressões faciais e corporais, intertítulos que exibiam diálogos ou passagens escritas do filme, com a intenção de facilitar o entendimento da história, velocidade de projeção, principalmente em comédias e a tintura de algumas películas. Alguns filmes foram tintados totalmente ou parcialmente. As películas eram mergulhadas em corantes e tingidas para representarem humor ou hora do dia. A tonalidade azul era usada para representar cenas noturnas. A tonalidade amarela para as cenas diurnas. A tonalidade vermelha para cenas com fogo, ou cenas passionais e violentas. O verde para cenas misteriosas. Existiam também os filmes pintados à mão. Méliès foi o pioneiro em utilizar essa técnica.
Outra característica do Cinema Mudo era o acompanhamento musical. A primeira exibição de um filme dos irmãos Lumière em 1895, em Paris, ditou a regra de que todo filme mudo deveria ser acompanhado por uma orquestra. A música também funcionava como um apoio as atuações dos atores ou as situações apresentadas nos filmes. Com a popularização do Cinema, era comum as salas de exibições contarem com orquestras que tocavam ao vivo. Algumas trilhas sonoras foram gravadas em discos e sobreviveram ao tempo, sendo inseridas posteriormente nos filmes lançados em dvds ou blu-rays. 
Quando falamos em Cinema Mudo, na maioria das vezes nos centramos apenas no cinema americano, mas nesse período surgiu um importante movimento: O Expressionismo Alemão ou o Cinema Expressionista Alemão. Esse movimento produziu pérolas como "O Gabinete do Dr. Caligari" (Das Cabinet des Dr. Caligari), "A Caixa de Pandora" (Die Büchse der Pandora), "Genuine", "O Golem" (Der Golem, wie er in die Welt kam), "Nosferatu" (Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens), "Metropolis", entre outros. Outros países que produziram filmes mudos: Rússia, México, França e até mesmo o Brasil.
O Cinema Mudo foi responsável em popularizar diversos gêneros, o principal gênero foi a comédia, onde surgiram diversos nomes como Charles Chaplin, Buster Keaton, Harold Lloyd, Stan Laurel e Oliver Hardy (o Gordo e o Magro), Fatty Arbuckle, Mabel Normand, entre outros. Além dos gênios da comédia, o Cinema Mudo popularizou nomes de astros e estrelas como Greta Garbo, Lillian Gish, Rudolph Valentino, Lon Chaney, Gloria Swanson, Theda Bara, Clara Bow, Louise Brooks, Pola Negri,  Mary Pickford, Janet Gaynor, Alla Nazimova, John Gilbert, Douglas Fairbanks, considerado o "pai" dos filmes de ação, entre outros.
Além dos atores, haviam também os diretores que se tornaram populares: D.W. Griffith, considerado um dos maiores gênios do cinema, Raoul Walsh, Murnau, Ernst Lubitsch, Erich von Stroheim, Fritz Lang, Abel Gance, John Ford, Frank Borzage, Cecil B. De Mille, que já produzia seus épicos ainda no cinema mudo, entre outros. Assim como alguns dos atores e atrizes citados acima, alguns desses diretores conseguiram êxito também no cinema sonoro.
O Cinema Mudo foi o período em que as mulheres mais trabalharam em cargos de liderança: haviam diretoras, donas de estúdios, roteiristas, produtoras, entre outros cargos de liderança. Mulheres como Alice Guy Blaché, Lois Weber, Mabel Normand, dirigiam filmes. Atrizes como Alla Nazimova, Fern Andra, Asta Nielsen, produziam seus próprios filmes.
No final da década de 20, havia uma extrema necessidade de reinventar o cinema e manter a popularidade dos filmes. Começou então, testes de filmes genuinamente sonoros. "O Cantor de Jazz" de 1927, é considerado o divisor de águas entre os filmes mudos e sonoros. As falas e as músicas foram gravadas em discos de acetato. A princípio apostaram no fracasso do filme, usando como base o fato do público ter se acostumado aos filmes mudos, porém o filme acabou inovando e foi um grande sucesso, chegando a ganhar um Oscar especial por ter revolucionado o cinema.
Após "O Cantor de Jazz", boa parte dos estúdios passaram a se adaptar a nova tecnologia que permitia captar sons e diálogos e naturalmente boa parte dos atores e atrizes passaram a estrelar filmes falados. Mas nem todos foram bem sucedidos. Alguns astros e estrelas possuíam um forte sotaque, outros não tinham uma voz considerada "atraente" e muitos simplesmente não conseguiram se adaptar ao novo estilo de filmagem. Com a chegada do cinema falado, muitas carreiras se findaram e tanto os estúdios, quanto os astros e estrelas, entraram em pânico.
Com a popularização do cinema sonoro, muitos donos de estúdio achavam que os filmes mudos eram uma coisa ultrapassada e passaram a se desfazer de diversos títulos. Filmes como "Salvo do Titanic" (Saved From the Titanic), "Os Homens Preferem as Loiras" (Gentlemen Prefer Blondes) (1927), "O Grande Gatsby" (The Great Gatsby), "London After Midnight", "Os 4 Demônios" (4 Devils), "The Gulf Between", o primeiro filme em Technicolor e o primeiro filme colorido em longa metragem dos Estados Unidos, entre outros, foram perdidos para sempre. Existem filmes que sobreviveram, mas que tiveram diversas partes perdidas, alguns exemplos: "Sedução do Pecado" (Sadie Thompson) e The Toll of the Sea, segundo filme em Technicolor de duas faixas. Um incêndio na Fox em 1937, resultou na perda de diversos filmes, dentre eles quase a filmografia completa de Theda Bara. Dos mais de 40 filmes estrelados pela atriz, apenas 6 sobreviveram. Clássicos estrelados pela atriz como "Cleópatra", "Salomé", "Madame Du Barry", "Camille", foram perdidos para sempre. 
Mesmo com a popularização dos filmes sonoros, na década de 30, ainda se produziam filmes mudos, porém esses filmes ficaram taxados como "filmes artísticos", por usarem uma tecnologia que para o público daquela época, já era ultrapassada. Filmes como "O Pão Nosso de Cada Dia" (City Girl), "Luzes da Cidade" (City Light), "Tabu", "Gente no Domingo" (Menschen am Sonntag), receberam essa alcunha. Em 2011, "O Artista", filme francês, resgata o período do Cinema Mudo, sendo produzido como um filme mudo. O filme foi reverenciado e ganhou diversos prêmios, inclusive um Oscar na categoria de melhor filme.

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