UM RESUMO DA COMÉDIA CLÁSSICA NO CINEMA

A comédia é um dos gêneros mais populares no cinema. Durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial e durante a Grande Depressão, foram as comédias (e os musicais posteriormente), que salvaram as pessoas e o cinema, trazendo mais leveza e otimismo para a vida dos espectadores. A comédia sempre esteve presente durante os primórdios do cinema, sendo bastante popular no cinema mudo e atingindo um alto grau de popularidade durante as décadas de 30 e 40, graças ao surgimento das Screwballs, as comédias malucas. Muitos clássicos produzidos durante essas décadas, permanecem atuais, fascinantes e engraçados e muitas dessas comédias salvaram carreiras, estúdios e trouxeram uma sensação de que no final tudo ficaria bem.
L'arroseur Arrosé (O Regador Regado), de 1896, feito na França, pelos irmãos Lumière é considerada a primeira obra de comédia do cinema. No cinema mudo, o humor das comédias era totalmente pastelão. Pela ausência de diálogos, os atores precisavam passar o humor através de suas expressões corporais e faciais. Nessa época era comum filmes com tortas na cara, quedas, perseguições, entre outros artifícios que caracterizaram a comédia no cinema mudo.
Foi durante o cinema mudo, que surgiram os considerados "pais" da comédia:  Buster Keaton, Harold Lloyd, Harry Langdon e claro Charles Chaplin, considerado o maior de todos. Stan Laurel e Oliver Hardy, o gordo e o magro, como são conhecidos aqui no Brasil, foram um dos poucos comediantes do cinema mudo, que conseguiram fazer a transição para o cinema sonoro e manterem a popularidade.
Na década de 20, surgiu um dos trios mais populares da comédia no cinema: "Os Três Patetas" (The Three Stooges). O trio se formou em 1922 e permaneceu em atividade até a década de 70. O trio passou por diversas reformulações e a formação mais famosa é a composta por Moe Howard, Larry Fine e Curly Howard, durando 12 anos e rendendo 97 curtas, sendo considerada a melhor formação do trio dos Patetas.
No final da década de 20, surgiam no cinema, os Irmãos Marx, vindos do vaudeville. Inicialmente um quarteto, assinaram um contrato com a Paramount em 1929 e filmaram "No Hotel da Furzaca" (The Cocoanuts). Em 1933 fariam "Diabo a Quatro" (The Duck Soup), considerado o melhor filme do grupo. O grupo original era formado por Groucho, Harpo, Chico e Gummo. Gummo, que nem chegou a estrelar um filme, saiu para lutar durante a Primeira Guerra Mundial, jamais retornando para o grupo. Foi substituído por Zeppo. Após "Diabo a Quatro", foi a vez de Zeppo abandonar o grupo. Chico, Groucho e Harpo, mantiveram o grupo até o fim da década de 50.
Na década de 30, surgiram as Screwballs, as comédias malucas. O primeiro registro de uma screwball se deu em "Ladrão de Alcova" (Trouble in Paradise), em 1932, porém o gênero se consolidaria em 1934, após "Aconteceu Naquela Noite" (It Happened One Night), arrebatar diversos prêmios no Oscar, incluindo os prêmios de Melhor Ator, Melhor Atriz e Melhor Diretor, para Clark Gable, Claudette Colbert e Frank Capra respectivamente.
O que separa uma Screwball de uma comédia comum, é o leque de situações consideradas "anormais" que este tipo de filme apresenta: desde um leopardo como animal de estimação em "Levada da Breca" (Bringing Up Baby), passando por um marido considerado morto e que ao retornar se depara com a mulher casada com seu melhor amigo em "Maridos em Profusão" (Too Many Husbands), temos ainda uma corista se passando por uma baronesa em "Meia-Noite" (Midnight) e uma mulher se passando por uma adolescente em "A Incrível Suzana" (The Major and  the Minor). São situações como essas que mesmo impossíveis de acontecerem na vida real, divertiam as pessoas.
Algumas screwballs iam além do papel de divertirem e retratavam de forma cômica, alguns estigmas sociais: "Irene, a Teimosa" (My Man Godfrey) retratava os estereótipos dos ricos e pobres, mostrando os ricos de três formas: a forma excêntrica representada pelos pais de Irene, a forma esnobe e preconceituosa, representada por Cornelia, irmã de Irene e a forma comum e humana, representada pela própria Irene.
Outra característica presente em boa parte das screwballs, é a inversão social: ricos se passando por pobres e pobres se passando por ricos. Isso era um desejo da audiência, que durante a Depressão desejava mesmo que fosse nos filmes, ver a classe rica passando por apuros e a classe pobre se sobressaindo. "As Três Noites de Eva" (The Lady Eve) é um dos filmes que abordam essa inversão de classes sociais.
"Sua Excelência, o Chofer" (Merrily We Live) realizado em 1938, possui uma trama bastante semelhante à "Irene, a Teimosa", porém retrata de forma bastante cômica, o estigma social de todos os pobres, principalmente ex-condenados, serem considerados desonestos. A matriarca de uma família tem o costume de ajudar andarilhos que passam por sua mansão, dando-lhes empregos, porém ela acaba sempre sendo roubada por eles e a família acaba desenvolvendo um tipo de "preconceito" contra as pessoas pobres. O preconceito é dissolvido, com a chegada de um andarilho que é promovido de mordomo a chofer, mostrando que pessoas pobres também são honestas. Como era de se esperar de uma screwball, esse filme conta com uma sequência onde o chofer se passa por um homem rico em uma festa promovida pela família.
O diálogo rápido, às vezes carregados de segundas intenções é outra característica marcante desse tipo de comédia. Filmes como "Cupido é Moleque Teimoso" (The AwfuI Truth) e "Jejum de Amor" (His Girl Friday), são carregados desse tipo de diálogo. O declínio das screwballs ocorreu na metade da década de 40, mas isso não impediu que o gênero fosse reavivado e homenageado nas décadas seguintes, em filmes como "O Inventor da Mocidade" (Monkey Business), de 1952, "Confidências à Meia-Noite" (Pillow Talk) de 1959, "O Esporte Favorito dos Homens" (Man's Favorite Sport?) de 1964, entre outros.

Um comentário:

  1. Muito bom. Tenho estudado a comédia clássica e seu texto ajudou muito. Obrigado :)

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