DIFERENTE DOS OUTROS (ANDERS ALS DIE ANDERN) - O CENTENÁRIO DO PRIMEIRO FILME A ABORDAR A HOMOSSEXUALIDADE

Homossexualidade no cinema, sempre foi um tabu. Principalmente entre as décadas de 30 a 60. Quando retratada, na maioria das vezes era de forma subliminar ou de forma escrachada, reforçando diversos estereótipos. Antes dessa fase de proibição, porém, surgiram alguns filmes que abordaram a homossexualidade de forma séria. "Diferente dos Outros" (Anders als die Andern) foi um deles e foi o pioneiro. Foi o primeiro filme a falar sobre a homossexualidade na história do cinema. 
"Diferente dos Outros", foi produzido em uma Alemanha pré-nazista. Foi lançado em 1919 e trazia Conrad Veidt (um ator que se tornaria bastante famoso na fase do Expressionismo Alemão e com a ascensão do Nazismo, iria para os Estados Unidos fazer filmes) e Reinhold Schünzel. No filme, Veidt interpreta um famoso violinista que acaba se apaixonando por um de seus alunos. O professor acaba sendo correspondido por seu aluno e iniciam um tórrido caso amoroso. Porém, o violinista acaba sendo chantageado por um ex-amante e o caso acaba indo à tona, trazendo desgraça à reputação do violinista.
O filme aborda além da homossexualidade, o preconceito tanto da sociedade, quanto da família, além de falar sobre as possíveis causas naturais e "curas" para a homossexualidade, além de dar uma aula sobre gênero e orientação sexual. O filme foi produzido, como forma de afrontar o parágrafo 175, da lei alemã, que condenava a homossexualidade.
Ao chegar nos cinemas, o filme fez um grande sucesso, mas enfrentou a ira do conservadorismo religioso. Inicialmente, a constituição da República de Weimar, garantiu que o filme não seria censurado ou banido dos cinemas, mas com a forte pressão do movimento religioso (que incluíam católicos e protestantes), uma lei de censura a filmes foi criada e "Diferente dos Outros" foi  primeiro filme a passar por essa lei. No final, o filme foi retirado dos cinemas, pois o movimento conservador sentia que "o filme era uma forma de 'recrutar' jovens para práticas homossexuais".
A exibição do filme se tornou então, totalmente restrita. O filme foi exibido apenas em sessões particulares ou para médicos que estudassem a sexualidade humana. O filme foi produzido por Richard Oswald (que o dirigiu) e Magnus Hirschfeld, este último, sexólogo e homossexual, sentia a necessidade em criar um filme que conscientizassem as pessoas de que a homossexualidade não era nociva e muito menos um desvio de caráter. 
Com a chegada do Nazismo à Alemanha, Hirschfeld teve quase todo seu trabalho perdido, sofrendo incêndios em suas bibliotecas e em suas clínicas. Hirschfeld foi assassinado na França, em 1935. Uma de suas teorias mais famosas era a do terceiro sexo, de que as proporções homem e mulher variam nos dois sexos em todas as pessoas, ou seja, uma pessoa pode transitar entre os gêneros masculino e feminino.
"Diferente dos Outros", como era de se esperar, foi um dos filmes destruídos pelo regime nazista. Passou anos considerado como um filme perdido, até ser descoberta uma cópia incompleta em Moscou. Com o passar do tempo, adquiriu o status de ser o primeiro filme a retratar a homossexualidade no cinema, causando controvérsias já que alguns historiadores de cinema consideram o curta "The Dickson Experimental Sound Film", produzido em 1874, com 17 segundos, a primeira obra a abordar a homossexualidade, porém o curta mostra apenas dois homens dançando ao som de um violinista. Esse curta foi uma tentativa em adicionar som às películas.
"Diferente dos Outros", pode seguramente ser considerado o primeiro filme com temática homossexual da história do cinema, pois graças a ele vieram outros clássicos que abordariam o tema: "Mikael" (1924), "Senhoritas em Uniforme" (Mädchen in Uniform) (1931) e Victor Victoria (Viktor und Viktoria) (1933). Já na década de 30, tanto a Alemanha, quanto os Estados Unidos, entrariam em uma forte onda conservadora e a homossexualidade acabou sendo banida dos filmes. Quando retratada, era de forma bastante escondida ou traziam personagens homossexuais caricatos, reforçando o estereótipo de que todo gay é afeminado ou toda lésbica é masculinizada. 
Graças a "Meu Passado me Condena" (Victim!), em 1961, a homossexualidade voltou a ser abordada de forma séria. "Meu Passado me Condena", foi o primeiro filme a usar claramente a palavra homossexual e graças a ele, na década seguinte, ocorreu uma forte explosão de filmes com temática homossexual como "Pink Narcissus", "Johan", "Sebastiane", "Algo Muito Natural" (A Very Natural Thing), "Morte em Veneza" (Death in Venice), "As Lágrimas Amargas de Petra von Kant (Die bitteren Tränen der Petra von Kant) entre outros.

2 comentários:

  1. Angelo Castanho20/7/19 11:29

    Aonde é possível encontrar essas radidades cinematograficas? Existe algum em dvd ou blue ray ou em alguma plataforma digital que possa ser baixado.?

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    1. Olá Angelo. Ele saiu em dvd pela distribuidora Cult Classics.
      https://www.colecioneclassicos.com.br/854111

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